Prólogo
Se ontem não tivemos rodada do futebol, pelo menos não podemos nos queixar de falta de ação.
Muita coisa mudou da noite para o dia...
... (I) aumento da Selic, (II) aprovação do texto base para a manobra fiscal do governo, (III) pontapé inicial para uma nova farra da liquidez internacional (agora, na versão China e Europa), e (IV) rebaixamento de rating da Petrobras.
Cumprirei esse cronograma, chegando - ao final - a uma questão chave.
O jogo só termina quando acaba.
Acabará com algum vencedor?
(I) Bate e afaga
A reunião do Copom na véspera marcou nova elevação na taxa de juro básica da economia. Foi o segundo aumento seguindo após as eleições, agora de 50 pontos percentuais, levando a Selic a 11,75% ao ano.
Em uma decisão perfeitamente em linha com o consenso, o Banco Central conseguiu surpreender, pode?
Será que toda a ortodoxia prometida estava limitada a duas reuniões?
Geralmente, o problema de tentar agradar todo mundo é não satisfazer ninguém.
(II) Como transformar déficit em superávit - utilizando apenas uma caneta
Aqui temos outro desfecho amplamente esperado, embora permeado por questões também surpreendentes.
A base governista conseguiu passar texto-base para alterar a Lei de Diretrizes Orçamentárias. A lei de Responsabilidade Fiscal não foi cumprida? Ao invés de sofrer as consequências, mais fácil mudar a lei...
Mas não estenderei nessa crítica - já a esmiuçamos a questão em M5Ms anteriores...
A novidade em questão foi a dificuldade de se aprovar (e mesmo votar) a manobra. Após uma série de adiamentos, a sessão da véspera durou 18 horas, foi alvo de protestos e não colocou um ponto final na questão. A falta de quorum exigiu que a reunião fosse remarcada para um desfecho.
O que isso quer dizer?
Não faltou aviso: precisamos de um ajuste firme e de uma série de medidas, mas não há consenso para dar agilidade às decisões e ao processo de ajustamento econômico como um todo. Cada passo da reestabilização promete ser um parto.
Na frente do problema econômico há uma crise política.
(III) A Farra da Liquidez, versão 2
Lá fora também há um problema econômico, mas sob outra perspectiva...
Logo após o início da contração monetária nos EUA, via encerramento do programa de compra de títulos, os indicadores mais recentes da economia norte-americana praticamente decretam o início da subida dos juros por lá.
A farra da liquidez, do dinheiro farto e barato circulando nos mercados estaria com os dias contados... Não contassem com a astúcia do...
Super Mario.
Que não é o Balotelli, tampouco o encanador...
Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu, trouxe o seguinte em declaração esta tarde aos mercados:
“Estamos estudando um programa de afrouxamento quantitativo para o Banco Central comprar títulos como uma opção, mas também discutindo outras iniciativas...”
Em paralelo, a Bolsa chinesa disparou com a expectativa por um novo pacote de estímulos para revigorar a economia local. O problema deles (quisera fosse um problema nosso) é a desaceleração econômica para um crescimento atual da ordem de 7% ao ano.
Quem ganha com isso?
Em tese, as empresas de siderurgia e mineração, arrasadas recentemente pelas apostas contra a economia chinesa.
Antes do minuto derradeiro, uma pausa para colocar alguns pingos nos i’s...
“Poxa, tanto o petróleo quanto o minério em queda livre, mas você só recomenda a Vale, e não Petrobras... Dois pesos duas medidas?”
Tenho recebido essa crítica com frequência.
As raízes - e consequências - da queda de preços do petróleo e do minério parecem bem distintas.
No caso do petróleo, a Opep como formador de preço impõe um incremento de oferta e pressiona os preços também como forma de pressionar a viabilidade comerncial do boom do gas de folhelho nos EUA e Canadá e os projetos de águas profundas no Golfo do México. De quebra, mata outro coelho com a cajadada, colocando em risco também a viabilidade comercial do pré-sal.
No caso do minério, as apostas de desaceleração da economia chinesa impõem um recuo substancial dos preços no mercado à vista chinês. Mas, no caso, o grande produtor, ou quem tem a vantagem de escala e baixo custo (além dos ativos de classe global, com maior teor de ferro) é a Vale, em conjunto com as australianas (mais notadamente Rio Tinto e BHP).
Portanto, a pressão dos preços no minério primeiro inviabiliza o pequeno produtor marginal, sugerindo ganho posterior de mercado para a tríade de empresas em questão.
Além disso, quisera a Petrobras que seu problema se restringisse à queda no preço do petróleo...
(IV) Desventuras em série
A agência Moody’s rebaixou na noite de ontem a nota de crédito da Petrobras. Foi a mais óbvia das decisões dentre as que falamos até aqui, Isso contando que as demais eram consenso...
O downgrade abateu os Baseline Credit Assessment (BCA) da companhia, mas não a nota global de crédito da mesma, que continua em perspectiva negativa. Os detalhes, porém, não tiram a essência da decisão.
A Moody’s falou em "aumentar significativamente o risco financeiro da companhia". Petrobras tem o maior plano de investimentos do mundo a cumprir, mas também tem a maior dívida corporativa do mundo e está com índices de alavancagem acima dos limites estipulados em seu Plano de Negócios.
O rebaixamento da nota é mais uma evidência no sentido de maior dificuldade da companhia captar dinheiro (dívida) no mercado para se financiar, pois aumenta a percepção de risco e consequentemente o custo das captações.
Epílogo: Os quatro finais da história
- b. Petrobras emite ações para se financiar c. Petrobras paralisa projetos e reduz substancialmente seu plano de investimentos d. A continuidade da queda do preço do petróleo coloca a viabilidade econômica de projetos da empresa em xeque e força a redução no plano de investimentos
Qual deles é um final feliz para as ações?