Na última reunião, o Banco Central (Bacen) voltou a elevar a taxa Selic, que agora está em 14,75% ao ano. Descontada a inflação, isso nos dá uma taxa de juro real de 8,65% — a terceira mais alta do mundo. À nossa frente, apenas Turquia (10,47%) e Rússia (9,17%), esta última em plena guerra.
O argumento oficial para esse aperto monetário segue sendo a alta nos preços dos alimentos e da energia, combinada com as incertezas do cenário internacional. Mas o efeito prático é outro: o Brasil se consolida como paraíso para o capital especulativo e inferno para quem produz.
Somos uma economia pobre, com baixa produtividade e desigualdade crônica. Ainda assim, oferecemos um prêmio de risco altíssimo aos rentistas, ao mesmo tempo em que penalizamos o setor produtivo com um dos custos de capital mais elevados do planeta. Temos uma base industrial promissora — mas que segue sufocada pela falta de coordenação entre política fiscal e monetária.
Enquanto isso, nos Estados Unidos, o Federal Reserve (FED) manteve sua taxa básica entre 4,25% e 4,50% ao ano, mesmo com pressões políticas. Na Europa, o movimento é de afrouxamento monetário, diante da estagnação da atividade econômica.
O Brasil, por outro lado, insiste na ortodoxia como doutrina, mesmo quando os fundamentos pedem outro caminho. O risco é claro: cresceremos pouco, investiremos menos e continuaremos exportando oportunidades de longo prazo em troca de dólares de curto prazo.
O remédio para o Brasil não está em juros elevados, mas sim em uma política fiscal responsável e reformas estruturais. Apesar de termos um parque industrial moderno, ainda não conseguimos atravessar o país de trem — seguimos presos à ineficiência do transporte rodoviário, que encarece a produção.
Além disso, enfrentamos uma carga tributária complexa e injusta. Sem resolver esses entraves, continuaremos presos ao mesmo ciclo: juro alto, investimento baixo e crescimento insuficiente.