Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - O Brasil deverá exportar um recorde de cerca de 80 milhões de toneladas de soja em 2018, contando com uma forte demanda da China, mas também terá de realizar atípicas importações da oleaginosa dos Estados Unidos para atender suas próprias necessidades, avaliou nesta terça-feira a Agribrasil, empresa que atua na originação de grãos.
A conta da Agribrasil para a exportação do país considera o total já embarcado, a programação de navios e a expectativa de exportações entre outubro e dezembro.
Contudo, o Brasil teria de importar cerca de 1 milhão de toneladas de soja dos EUA, que não estão vendendo quase nada para a China desde que Pequim, em guerra comercial com Washington, implantou em julho uma tarifa de 25 por cento sobre a oleaginosa norte-americana.
Com uma safra recorde de soja sendo colhida nos Estados Unidos e o Brasil com estoques pequenos após exportações recordes, principalmente para a China, o mercado tem especulado já há algum tempo sobre compras brasileiras nos EUA.
"Soja americana virá em breve pro Brasil", afirmou à Reuters o presidente da Agribrasil, Frederico Humberg, que atua no setor há quase 30 anos, tendo trabalhado anteriormente em várias multinacionais.
Ainda não há confirmação de negócios do Brasil com os EUA, os maiores produtores globais da oleaginosa. Anteriormente, a possibilidade de compras de soja norte-americana já havia sido comentada pela associação de exportadores do país, a Anec.
Compras de soja pelo Brasil ajudariam os EUA a lidar com seu excedente, em momento em que os norte-americanos já buscam vender mais para a Europa, como forma de escoar uma parte da produção antes comprada pela China.
As importações totais do Brasil somariam 1,25 milhão de toneladas, com parte vindo também do Paraguai, ante compras totais de 250 mil no ano passado.
Enquanto os prêmios pagos pelos chineses pela soja brasileira elevam as cotações no país e apertam as margens da indústria nacional, nos Estados Unidos os preços da oleaginosa estão oscilando perto de mínimas em dez anos, o que ajudaria na efetivação de importações pelo Brasil.
Humberg destacou que considerando as exportações do Brasil no ano até agosto (65,9 milhões de toneladas), mais cerca de 4 milhões já carregados em setembro e outros 3,6 milhões de toneladas previstos nos line-ups dos navios, o país já teria exportações garantidas de cerca de 73,5 milhões de toneladas.
"Estimo que podemos ter mais 6-7 milhões de toneladas de exportação nos meses de outubro, novembro e dezembro, e com isso chegaríamos ao recorde de 80 milhões de toneladas de exportação", explicou.
Essa previsão de exportação do Brasil, maior exportador global do produto, supera a projeção da associação da indústria de soja (Abiove) divulgada no início de setembro, que apontou 76,1 milhões de toneladas, o que já representaria um crescimento de quase 12 por cento ante 2017.
O CEO da AgriBrasil, uma empresa relativamente nova no país, mas com planos de triplicar a originação de grãos este ano, para 500 mil toneladas, ainda estima uma revisão para baixo do processamento de soja pelo país, para 41,5 milhões de toneladas, enquanto a Abiove vê 43,6 milhões de toneladas, versus 41,8 milhões no ano passado.
O executivo ainda aposta em uma revisão para cima da safra brasileira, para 121 milhões de toneladas, versus aproximadamente 119 milhões vistos pela Abiove e governo.
Mesmo com uma safra recorde, os estoques brasileiros terminarão em mínimas históricas em meio às fortes exportações, com a China respondendo por cerca de 80 por cento dos embarques do Brasil.
(Por Roberto Samora)