Por Roberto Samora e Nayara Figueiredo
SÃO PAULO (Reuters) - Associações de agricultores do Brasil apontaram nesta terça-feira problemas nas entregas de herbicidas, que teriam sido comercializados mas não entregues por empresas, o que colocaria em risco lavouras de milho do país, assim como a dessecação da soja para a colheita.
Do outro lado, representantes da indústria de defensivos citam a continuidade de gargalos logísticos decorrentes da pandemia e dificuldades relativas à oferta de insumos, ressaltando que os fornecedores estão comprometidos com as entregas dos produtos.
O presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), Antonio Galvan, afirmou à Reuters que a entidade tem recebido reclamações de agricultores de todo o país que adquiriram o herbicida atrazina, usado na cultura do milho, mas que até agora não receberam o produto das empresas que o comercializam.
"A atrazina normalmente a gente recebe no final do ano anterior ou nos primeiros dias de janeiro, para usar depois da colheita da soja. A aplicação é fundamental de 15 a 20 dias após o plantio do milho safrinha e começamos a ter essa dificuldade", disse ele.
A atrazina é considerada um dos principais herbicidas do milho pela ação no controle do nascimento de ervas daninhas de folhas largas entre as lavouras do cereal, afirmou.
Galvan acrescentou que a situação se assemelha ao problema ocorrido pela falta de entregas do dessecante Diquat usado na soja, que levou a associação a solicitar no mês passado autorização ao Ministério da Agricultura para importar diretamente o herbicida, tamanha a necessidade do insumo no atual momento de colheita da oleaginosa.
Ele ainda disse que tanto no caso da atrazina quanto no Diquat, é possível encontrar alguns lotes dos produtos em revendas, porém com preços extremamente mais elevados que os valores fechados pelos produtores em contratos anteriores.
Mais cedo, a Aprosoja e a Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho) divulgaram nota conjunta para alertar sobre o problema.
"Diante deste cenário de incertezas, Aprosoja Brasil e Abramilho vêm a público manifestar preocupação com o desabastecimento de produtos no mercado brasileiro, o que coloca a segunda safra do milho sob forte ameaça", afirmaram no comunicado.
Procurado, o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg) disse em nota que as associadas têm relatado frequentemente alguma instabilidade no fornecimento de insumos básicos, devido a problemas ligados à oferta global e à logística internacional provocados pela pandemia e por questões internas de países produtores.
"O momento está exigindo um bom planejamento das necessidades de produtos por parte de todos os elos da cadeia de produção, porém, reiteramos que as indústrias associadas cumprem com absoluto comprometimento sua função de supridoras de insumos essenciais para a agricultura", ressaltou o sindicato.
Já a CropLife Brasil, que também representa fabricantes de agroquímicos, acrescentou em nota que, além da pandemia, vieram "imprevistas e incontroláveis restrições à produção industrial na China, que vem buscando adequar sua matriz energética aos compromissos de redução de emissões dos GEE".
Ainda assim, a CropLife disse que vê oferta maior dos produtos comparada ao ano passado.
"Em relação à safrinha 22, ainda que diante de um cenário desafiador em termos de logística e restrições na cadeia de produção chinesa, a Croplife observa o abastecimento de produtos no mercado brasileiro, no qual importantes ativos como o glifosato, atrazina, acefato e 2,4D apresentam aumento na oferta em comparação à 2021."
O Ministério da Agricultura afirmou por meio da assessoria de imprensa que a Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA/Mapa) não recebeu nenhuma informação sobre esse assunto.
O milho segunda safra, em rotação com a soja, é responsável pelo abastecimento de mais de 70% do suprimento do mercado brasileiro do cereal.
A falta do herbicida, afirmou a Aprosoja, cria ainda mais dificuldades para os produtores do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul e de parte de São Paulo, "que foram seriamente atingidos pela estiagem na primeira safra de milho, e traz impactos também ao consumidor final".
Diante disso, o setor pede a liberação e registros de empresas que tenham condição de produzir volumes de atrazina suficientes para o abastecimento do mercado brasileiro na safra atual, assim como seja liberada a importação de produtos de países do Mercosul.
No final do ano passado, um especialista da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) afirmou que muitos produtores só conseguiram receber insumos agrícolas após pagar um valor adicional, em meio a custos crescentes dos produtos.
Associações de produtores também pediram ao governo federal providências sobre a alta de preços de defensivos e o cancelamento de pedidos.