Por Marcelo Teixeira
SÃO PAULO (Reuters) - Os crescentes preços da gasolina no Brasil e a melhora do panoramas econômico em 2019 estão impulsionando a perspectiva para a venda de etanol, e usinas podem mais uma vez se inclinar em direção ao biocombustível e para longe do açúcar, conforme a nova safra de cana se aproxima.
O etanol permanece mais atrativo no momento e as usinas provavelmente irão favorecer fortemente a produção do biocombustível, com a colheita de cana de 2019/20 da região centro-sul se iniciando em abril, de acordo com analistas e uma importante empresa do setor.
As usinas brasileiras usaram no ano passado apenas 35 por cento da cana para a produção de açúcar, mínima recorde.
O restante foi consumido pela produção de etanol, conforme as vendas do etanol hidratado, que compete com a gasolina nas bombas, avançaram 42 por cento, com as usinas buscando, ainda, escapar do baixo preço global do açúcar.
Uma repetição da situação em 2019, mesmo se não tão extrema como no último ano, pode dar mais força para uma mudança no mercado global do açúcar, de um excedente para um déficit.
A Petrobras (SA:PETR4) aumentou os preços da gasolina nas refinarias diversas vezes nos últimos dias, como consequência dos valores mais altos do petróleo. Nesta semana, a gasolina atingiu seu maior valor desde novembro.
Esse movimento abre caminho para que os preços do etanol também aumentem, melhorando as margens de lucro das usinas.
Luís Henrique Guimarães, CEO da Raízen, maior produtora mundial de açúcar e líder da produção de etanol no Brasil, declarou nesta quinta-feira que a demanda por combustível no país deve crescer em 2019, pela primeira vez em três anos.
"Vemos uma recuperação da economia com o PIB crescendo, melhoria de renda do consumidor... A demanda por combustível deve crescer", ele disse, acrescentando que a empresa está otimista para o etanol em 2019.
Plinio Nastari, presidente da consultoria de açúcar e etanol Datagro, vê os retornos atuais das vendas de açúcar bruto ainda em torno de 1 dólar por libra-peso, abaixo do equivalente em preços do etanol.
"O açúcar teria de subir para um prêmio acima do etanol para levar as usinas a produzirem mais", declarou.
A corretora e consultoria INTL FCStone estima que os preços atuais do etanol em São Paulo, maior mercado de combustíveis do Brasil, estejam equivalentes a um hipotético preço de 14,39 dólares por libra-peso do açúcar, considerando os contratos futuros de Nova York.
João Botelho, analista de açúcar da FCStone, acredita que as usinas poderiam mudar levemente o mix em direção ao açúcar, devido à expectativa de um déficit no suprimento global do adoçante, mas ainda assim produziriam mais etanol do que açúcar quando o processamento de cana começar em abril.