Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) - A hidrelétrica de Belo Monte não poderá gerar eletricidade com sua próxima turbina a ser concluída ainda neste mês, devido a atrasos na obra de linhas de transmissão que iriam escoar a produção da usina no Pará até o sistema elétrico, segundo um documento visto pela Reuters.
A Norte Energia, que reúne os sócios do empreendimento, com acionistas como Eletrobras (SA:ELET3), Cemig (SA:CMIG4), Light (SA:LIGT3), Neoenergia e Vale (SA:VALE5), já foi alertada pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) sobre a falta de capacidade do sistema para receber a geração da próxima máquina da usina, que quando concluída será uma das maiores do mundo.
Até o momento, a usina no Rio Xingu, com investimento estimado em 35,9 bilhões de reais, colocou em operação comercial doze turbinas --seis na casa de força principal e seis menores em uma unidade complementar.
"Com o atraso na linha (de transmissão)... há capacidade para escoamento apenas até a unidade geradora 6 (da casa de força principal)", afirma um documento da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) visto pela Reuters, que publicou reportagem em março indicando que o problema limitaria a geração a partir do final deste ano.
Cada máquina da casa de força principal tem 611 megawatts em capacidade, o que representa praticamente a potência de uma usina de grande porte.
A título de comparação, a hidrelétrica de Sinop, com 400 megawatts, exigiu investimentos de cerca de 3 bilhões de reais.
A limitação em Belo Monte vem após a espanhola Abengoa alegar crise financeira e abandonar ainda no final de 2015 as obras de linhas de transmissão que aumentariam a capacidade do sistema e possibilitariam à rede receber a energia de Belo Monte.
Até o momento, a geração da hidrelétrica vinha sendo escoada por um sistema local de transmissão, mas a capacidade dessa estrutura já se esgotou.
Uma autoridade do setor elétrico confirmou à Reuters que Belo Monte alcançou o limite disponível para transmissão.
"É isso mesmo. O que acontece é que houve vários atrasos no cronograma de obras de transmissão, principalmente naquelas obras do Nordeste que seriam da Abengoa", disse.
Embora a restrição faça com que a próxima máquina de Belo Monte não esteja apta a produzir eletricidade para a rede, a turbina deverá ser ligada mesmo assim, para apoiar a operação do sistema elétrico, funcionando em um esquema conhecido tecnicamente como "compensador síncrono", acrescentou a fonte.
"É uma manobra elétrica muito comum no sistema elétrico, no mundo inteiro... ajuda na operação, no controle da operação. A máquina não injeta megawatts na rede, ela absorve", explicou a fonte, que falou sob a condição de anonimato.
A previsão agora é que essa restrição acabe somente quando entrar em operação um enorme linhão de ultra-alta tensão que está sendo construído pela Belo Monte Transmissora de Energia (BMTE), uma parceria da chinesa State Grid com a Eletrobras.
O linhão, que ligará Belo Monte ao Sudeste, tem cronograma que prevê conclusão para fevereiro de 2018, o que deve permitir o escoamento da energia das novas turbinas, se não houver atraso na obra.
Procurada pela Reuters, a Norte Energia disse em nota que "qualquer unidade geradora conectada ao sistema elétrico assegura receita ao empreendedor, independentemente de questões referentes à transmissão de energia". O pagamento é previsto porque o atraso não está sob controle da empresa.
Segundo a companhia, a conexão das próximas máquinas da usina, as turbinas 7 e 8, "está programada para setembro e dezembro deste ano, respectivamente".
O ONS não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
ATRASO ADICIONAL
A Norte Energia apontou à Aneel, ainda, um pedido para atrasar em quase um ano a data prevista para a entrada em operação da totalidade das máquinas de Belo Monte, segundo documento do regulador visto pela Reuters.
O contrato de concessão da usina prevê o acionamento da última turbina da casa de força principal em 31 de janeiro de 2019, mas a Norte Energia disse ter uma previsão atual de concluir a instalação das máquinas em 6 de janeiro de 2020.
Questionada sobre a data prevista para conclusão da usina, a Norte Energia disse apenas que "mantém o cronograma informado até o momento aos órgãos de regulação do setor", sem abrir as datas previstas.
Na correspondência à Aneel sobre a limitação na geração em Belo Monte, a Norte Energia pediu autorização para adiar a entrega das próximas turbinas para a partir de março de 2018, o que, segundo a empresa, alinharia o cronograma da usina com a data em que o sistema de transmissão estará pronto.
Case este pedido seja aceito, a usina atrasaria um pouco mais, ficando totalmente pronta em 25 de fevereiro de 2020, segundo o documento.
Quando estiver concluída, Belo Monte contará ao todo com 24 máquinas.