Por Mei Mei Chu e Dominique Patton e Naveen Thukral
PEQUIM (Reuters) - Uma grande safra chinesa de milho e o aumento das importações do Brasil devem inundar o mercado chinês nas próximas semanas, reduzindo a demanda por outros grãos e pressionando os preços globais da commodity, que já estão perto das mínimas de três anos, segundo analistas e traders.
O segundo maior produtor de milho do mundo começou sua colheita, com a produção provavelmente superando o total do ano passado, mesmo depois que os tufões do verão danificaram as plantações em algumas províncias do norte.
Uma queda nos preços exercerá pressão sobre os agricultores dos Estados Unidos, mas beneficiará os criadores de porcos e aves chineses, que usam o milho como matéria-prima para alimentar o maior plantel de suínos do mundo e têm perdido dinheiro durante a maior parte deste ano.
O Ministério da Agricultura da China previu um recorde de 285 milhões de toneladas métricas para a safra de 2023/24, um aumento de 2,9% em relação aos 277 milhões de toneladas do ano passado. A Shanghai JC Intelligence estima uma produção de 269,5 milhões de toneladas, enquanto a corretora StoneX dos Estados Unidos projeta cerca de 280 milhões de toneladas.
A chuva forte aumentou a umidade do solo e impulsionou o crescimento em partes do nordeste, segundo analistas, ajudando a compensar as perdas em outros locais e a elevar a produção.
A colheita da China coincidirá com grandes chegadas de milho do Brasil, cuja importação foi aprovada por Pequim no final do ano passado.
Cerca de 254.027 toneladas métricas chegaram do país sul-americano em agosto, de acordo com a alfândega chinesa. A LSEG estima que outras 578 mil toneladas foram embarcadas do Brasil em agosto e 1,22 milhão de toneladas neste mês.
A JCI espera que a China importe 20 milhões de toneladas de milho na temporada 2023/24, sendo um terço do Brasil, em comparação com 18 milhões de toneladas no ano anterior.
Os fabricantes de ração também adquiriram cevada australiana, oferecida com desconto em relação ao milho chinês quando as tarifas antidumping foram suspensas no mês passado.
"Estamos recebendo um pouco de cevada da Austrália, mas não muito. Espera-se que a safra (de milho) seja boa, e os preços cairão", disse um gerente de um grande produtor de ração chinês, que não quis se identificar devido à sensibilidade do assunto.
O contrato futuro do milho para novembro na Dalian Commodity Exchange caiu 5% este mês, para 2.602 iuans (355,82 dólares) por tonelada.
O aumento dos estoques de grãos no maior comprador do mundo também pesará sobre os futuros de referência do milho em Chicago, que já estão perto das mínimas de três anos, devido à expectativa de uma oferta mundial abundante.
O Brasil deve superar os Estados Unidos como exportador pela segunda vez seguida nesta temporada, e os preços atraentes de cerca de 270 dólares por tonelada para embarque em dezembro significam que a China ainda está comprando, disseram os traders.
A qualidade da próxima safra também ainda não está clara.
"Ainda é cedo para a colheita. E tanto o milho do Mar Negro quanto o da América do Sul são mais baratos do que o milho local da China", disse um trader de Cingapura de uma empresa de comércio internacional que fornece grãos para ração à China.