Por Nayara Figueiredo
SÃO PAULO (Reuters) - O Brasil não terá problemas de abastecimento de trigo no curto prazo devido à guerra na Ucrânia, pois a Argentina já sinalizou ter oferta suficiente para atender as necessidades nacionais, mas os preços preocupam o setor, afirmou a Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo) nesta quinta-feira.
O volume vindo da Rússia para o Brasil é considerado muito pequeno e não há registro de compras do trigo da Ucrânia, afirmou a associação em nota, enquanto os argentinos são os principais fornecedores externos da indústria brasileira.
Cerca de 60% da demanda de trigo do Brasil é atendida por importação e, desse total, 85% é proveniente de um único país, a Argentina, cuja safra 2021/22 está estimada em um recorde de 22,1 milhões de toneladas.
Apesar de a Argentina ser um grande player do setor, a Rússia é o maior exportador mundial de trigo e a Ucrânia ocupa a quarta posição neste ranking, com os dois países respondendo por cerca de 30% das exportações globais do cereal.
Desta forma, a Abitrigo acredita que o impacto da guerra na Ucrânia virá para todos os importadores da commodity e estará nos custos.
"É inevitável que a crise da Ucrânia afete diretamente os preços do trigo a nível mundial", afirmou.
Os valores do trigo na bolsa de Chicago estão sendo negociados em máximas de 14 anos.
Se o conflito armado se prolongar, a associação acredita que continuará a suspensão dos embarques nos portos ucranianos e os importadores concentrarão suas demandas nos demais exportadores, como Estados Unidos, Austrália, Canadá e Argentina --mantendo os preços em níveis elevados.
"Um fator que pode aliviar um pouco esse aumento, mas longe de ser significativo, é a queda no valor do dólar em relação ao real nos últimos dias, o que pode compensar, de certa forma, os aumentos recentes em Chicago", disse a Abitrigo.
"Mas a tendência é que o patamar de preços fique bem elevado, nos próximos quatro ou cinco meses, com previsão de estabilizar ou começar a cair a partir do mês de julho/agosto, com a entrada da safra do hemisfério Norte."
Em termos de oferta, o Brasil teve uma safra recorde na última temporada, com a produção avançando 23%, a 7,68 milhões de toneladas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Ainda assim, seriam necessárias importações de 6,5 milhões, diante de um consumo interno projetado pela estatal em 12,55 milhões de toneladas.
Ainda segundo a Abitrigo, outra questão que pode impactar o preço do cereal é a incerteza em relação aos fertilizantes, pois a Rússia é um dos maiores produtores do mundo e também fornecedor desse produto para o Brasil.
(Por Nayara Figueiredo; com reportagem adicional de Roberto Samora)