Por Gustavo Bonato
SÃO PAULO (Reuters) - A capacidade de armazenagem de grãos no Brasil deverá registrar em 2015 o maior avanço dos últimos anos, impulsionada por obras financiadas por juros baixos do governo federal, mas ainda será pouco para cobrir o déficit histórico do país neste setor, mostrou um estudo ao qual a Reuters teve acesso.
No próximo ano serão instalados novos silos para receber 10,5 milhões de toneladas, elevando a capacidade estática total do país para 160 milhões de toneladas, segundo projeções da Carlos Cogo Consultoria Agropecuária.
O volume previsto para o próximo ano é 157 por cento maior que o entregue em 2014 e 258 por cento maior que o de 2013.
"Quem tem silo na fazenda não precisa contratar frete na hora da colheita. É um investimento com taxa de retorno muito boa", disse Cogo, que presta consultoria para as principais empresas do setor de armazenagem.
O setor de armazenagem ganhou impulso em meados de 2013, quando o governo federal lançou o Programa de Construção e Ampliação de Armazéns (PCA), com a intenção de liberar 5 bilhões de reais por ano ao longo de cinco anos, a juros abaixo da inflação.
A nova armazenagem, no entanto, ainda não alcança o tamanho da safra nacional de grãos. Em 2015, o país deverá colher um recorde de cerca de 200 milhões de toneladas, gerando um déficit de armazenagem de 39,9 milhões, equivalente a 20 por cento da produção, contra índice de 6 por cento há dez anos.
"O programa (PCA) é tudo que se pedia há anos. Ele é elogiável, é ótimo. Mas está 20 anos atrasado", afirmou Cogo.
O estudo indica que a pior situação está justamente na região que mais produz grãos, o Centro-Oeste, onde faltarão ainda 29,6 milhões de toneladas de capacidade instalada para absorver todos os grãos colhidos no próximo ano.
Apesar de um aumento de quase 4 milhões de toneladas na armazenagem, a safra do Centro-Oeste crescerá ligeiramente mais. A região terminará o próximo ano com capacidade de armazenar apenas 65 por cento de sua colheita, enquanto o padrão recomendado por especialistas ao redor do mundo é de 120 por cento de uma safra anual.
PERSPECTIVAS
O volume de crédito oferecido pelo governo e a recente queda nos preços das commodities devem colocar um teto para o número de novos pedidos de silos e armazéns, que a partir de 2016 deverão ficar dentro do patamar de 2015.
Pela primeira vez em vários anos, produtores rurais brasileiros enfrentam na atual safra 2014/15 margens de lucro mais apertadas, devido à queda nos preços da soja e do milho em meio a safras recordes no Brasil e nos Estados Unidos.
"O preço das commodities caiu drasticamente e isso afeta a decisão de investimento do produtor. Isso eleva o nível de alavancagem... Pode afetar a capacidade dele de tomar novos empréstimos", disse o diretor vice-presidente e de Relações com Investidores da Kepler Weber, Olivier Colas, da maior fabricante de silos do Brasil.
Entre a decisão de investimento, assinatura de contrato, obtenção de financiamento, obras civis, instalação e entrada dos equipamentos em operação, o prazo pode chegar a um ano e meio, segundo estimativas do mercado. Uma retração no ânimo dos agricultores ao fim de 2014, portanto, pode impactar o número de armazéns entregues em 2016.
Os armazéns entregues em 2016, segundo Carlos Cogo, devem ficar perto de uma capacidade de 13 milhões de toneladas, com o total instalado no país subindo para 173 milhões de toneladas.
"O ano que o produtor vai escolher para não tomar uma decisão é 2015. Ele passou cinco anos de 'vacas gordas' e vê as margens caindo bastante", disse Cogo. "Embora seja um investimento que dura 30 anos e que se paga em até 15... é uma barreira psicológica."
Os especialistas destacam que os investimentos em armazenagem nos próximos anos serão equivalentes aos recursos oferecidos pelo governo, que deverão se manter estáveis na casa de 5 bilhões de reais anuais. Serão raros os casos em que um produtor ou uma empresa contratará nova armazenagem a juros de mercado, fora das linhas de crédito subsidiado.
"Na melhor das hipóteses, os pedidos vão ficar estáveis", disse Colas. "Vai continuar patamar alto de negócios, mas não vejo crescimento."