SÃO PAULO (Reuters) - O Banco Central manteve nesta quarta-feira a taxa básica de juros em 14,25 por cento ao ano em decisão unânime e em linha com expectativa dominante de especialistas, na primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) sob o comando de Ilan Goldfajn.
No comunicado, com novo formato e mais longo, o BC reforçou que não há espaço para reduzir a Selic, citando riscos ao cenário de inflação.
Veja comentários de analistas sobre a decisão:
ALEX AGOSTINI, ECONOMISTA-CHEFE, AUSTIN RATING
"Os juros não caem em agosto e isso fica muito evidente principalmente no item que o BC cita que a inércia pode adiar o processo de desinflação.
"A gente ainda precisa acompanhar mais os desdobramentos da economia até lá (a próxima reunião), mas acho que não tem espaço para corte em agosto.
"Ainda tínhamos uma esperança de que (a Selic) pudesse cair em agosto... Mas agora isso muda nosso cenário para o primeiro corte em outubro."
JOSÉ FRANCISCO DE LIMA GONÇALVES, ECONOMISTA-CHEFE, BANCO FATOR
"Esse formato(de comunicado)é bastante interessante, principalmente porque permite cobrar depois os itens listados.
"Obviamente eles não podem sinalizar quando (a Selic) vai cair, se vai ser agora ou muito mais tarde, mas acho que a hora se aproxima.
"Entre os riscos para inflação, eles citam os alimentos, mas isso já mudou. Já desacelerou e isso vai ter efeito no IPCA de julho, que saberemos em agosto. Ou seja, vamos chegar na reunião de agosto com o conteúdo agrícola bem diferente.
"Existe a parte fiscal como risco. Mas claramente a expectativa melhorou de uma semana para cá, então vamos ver o que acontece até o dia 31 de agosto (próxima decisão do Copom) e talvez a situação esteja bem melhor.
"Nitidamente, como expectativas, parece que a coisa vai para melhor, não para pior. Tem chance importante de a Selic ser derrubada em agosto e esse comunicado não me faz mudar de ideia."
ALBERTO RAMOS, ECONOMISTA-SÊNIOR, GOLDMAN SACHS
"Se a partir de agora até a próxima reunião tivermos uma valorização significativa da moeda (real), surpresas positivas da inflação ou mesmo um progresso tangível sobre a agenda de consolidação fiscal, eu acho que um corte da taxa de juros em agosto poderia estar em jogo. Não necessariamente o mais provável (cenário), mas ele poderia muito bem ser que a inflação fique alinhada com a meta até o final desse período ".
"O cenário mais provável é que o primeiro corte venha em outubro, mas eles estão muito perto de alcançar a sua orientação futura baseada no calendário; atingindo a meta em 2017."
"Se você vê melhora adicional das expectativas, melhora na inflação esperada e maior depreciação da moeda, podemos realmente estar lá no momento em que eles considerarem um corte nas taxas."
LUCIANO ROSTAGNO, ESTRATEGISTA-CHEFE, BANCO MIZUHO
"O formato do texto mudou completamente, mas a mensagem principal permaneceu a mesma, de que as condições para corte de juros não estão postas e não parece que vão estar postas no curtíssimo prazo.
"(O comunicado) Está deixando mais claro o que eles estão olhando, quais os parâmetros a serem monitorados para que possa iniciar o ciclo de afrouxamento monetário. Claramente não estão nesses níveis ainda.
"Não houve nenhuma sinalização de urgência para querer preparar o mercado para corte de juros. A discussão de corte de juros nem foi posta ainda, é o que indica o comunicado. Portanto não dá para esperar que as condições para isso estejam postas em agosto porque elas não vão acontecer da noite para o dia."
ZEINA LATIF, ECONOMISTA-CHEFE, XP INVESTIMENTOS
Achei o comunicado muito ponderado, faz os pontos e contrapontos em relação ao diagnóstico de inflação, mas sem deixar de reconhecer as melhoras que a gente tem visto recentemente, que culminam na redução da projeção de inflação em relação ao que foi divulgado no Relatório de Inflação.
Não achei comunicado duro, no sentido de jogar a expectativa de relaxamento para muito distante. Achei na medida justa para essa avaliação de riscos aí, tem avanços, tem riscos de curto prazo e isso está ali colocado.
Eu acho que é possível que cresçam as discussões de um relaxamento (monetário) em agosto, não quer dizer que isso está ali no documento, mas o papel do mercado é sempre pensar em cenários alternativos. Hoje o mercado aposta majoritariamente num corte em outubro.
Eu acho que o grande destaque é o fato de a projeção de inflação ter caído, porque tinha piorado no Relatório de Inflação. Esse é um reconhecimento de uma melhora do ambiente."
(Reportagem de Flavia Bohone, em São Paulo, Marcela Ayres e Alonso Soto em Brasília)