BRASÍLIA (Reuters) - O governo central (Tesouro Nacional, Banco Central e Previdência Social) teve déficit primário de 16,422 bilhões de reais em junho, divulgou o Tesouro nesta sexta-feira, pior que o esperado e afetado pelo aumento das transferências da União a Estados e municípios.
Em pesquisa Reuters, analistas esperavam rombo de 11,5 bilhões de reais para o mês.
Em junho, as transferências por repartição de receita da União subiram 8,4 por cento sobre igual período do ano passado, a 20,508 bilhões de reais, movimento atribuído pelo Tesouro à "reclassificação, pela Receita Federal em maio, de resíduo do estoque de parcelamentos especiais não reclassificados em novembro de 2017".
Como resultado, a receita líquida total recuou 2,3 por cento sobre um ano antes, já descontada a inflação, a 88,332 bilhões de reais.
Por sua vez, as despesas totais caíram 5,3 por cento na mesma base de comparação, a 105,275 bilhões de reais, ajudadas fundamentalmente pela estratégia do governo de antecipar o pagamento de precatórios e sentenças judiciais para março e abril.
No ano passado, o Tesouro arcou com a conta entre maio e junho, o que afetou, portanto, a base de comparação, tornando o mês de junho de 2017 mais pesado nessa linha.
O Tesouro informou ainda que, no primeiro semestre, o déficit primário alcançou 32,867 bilhões de reais, acumulando em 12 meses um rombo de 103,2 bilhões de reais.
O governo vem reiterando a viabilidade da meta fiscal deste ano, de déficit de 159 bilhões de reais, apesar de ter diminuído a folga para cumprí-la a apenas 1,845 bilhão de reais, sobre 6,198 bilhões de reais antes.
O resultado deste ano será o quinto consecutivo em que o governo não conseguirá fazer poupança para pagamento de juros da dívida.
Em coletiva de imprensa, o secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, apontou que as despesas esperadas para o segundo semestre são mais pesadas, incluindo, por exemplo, pagamento de 13º para o funcionalismo. Por isso, o governo prevê déficit de 124,3 bilhões de reais de julho a dezembro.
Em apresentação, o Tesouro afirmou que os ministérios vêm executando despesas em montantes inferiores às liberações financeiras, diferença que soma cerca de 12,7 bilhões de reais até junho e que poderá ajudar na entrega de um déficit menor em 2018.
Para especialistas, o governo conseguirá cumprir a meta desse ano.
"Mesmo com crescimento econômico mais moderado e com subsídios para os preços do diesel, o resultado primário deve ser melhor em torno de 10 bilhões de reais do que a meta, com despesa menor do que a atualmente estimada e alguma resiliência em receitas recorrentes", escreveu a equipe de economistas do Banco Itaú (SA:ITUB4) em nota distribuída pela corretora do banco.
(Por Marcela Ayres e Mateus Maia)