Por Nayara Figueiredo
SÃO PAULO (Reuters) - O Brasil pode produzir um recorde de 113,05 milhões de toneladas de milho na temporada de 2021/22, se a persistência do fenômeno climático La Niña não causar problemas relevantes na segunda safra do cereal, que está sendo bem plantada, conforme analistas ouvidos pela Reuters em pesquisa.
Se confirmada a previsão, a safra daria um salto de 29,87% em relação ao volume de 87,05 milhões de toneladas do ciclo anterior, quando a "safrinha" sofreu quebra por seca e geadas.
Após perdas na safra deste verão pela estiagem no Sul, a expectativa de crescimento da produção total se dá pelo incremento na área de plantio da segunda safra de milho --a principal do Brasil-- e pela semeadura dentro do período ideal, graças a uma colheita mais acelerada da soja.
De acordo com a pesquisa realizada com 14 analistas, a área total de milho deve alcançar 21 milhões de hectares, alta de 5,37% ante a temporada anterior, com a segunda safra respondendo por mais de 70% do total.
"O início mais adiantado dos trabalhos de plantio de milho inverno e a situação hídrica favorável no solo, em especial no Cerrado, nos leva a esperar menor risco de quebra de produtividade em 21/22", disse o analista da Céleres Enilson Nogueira.
"E junto ao forte crescimento de área plantada, isso deve resultar num cenário de produção elevada (de 92 milhões de toneladas na segunda safra) e reabastecimento do mercado após baixos estoques de passagem de 2021, e quebra no verão", acrescentou o especialista.
O analista da IHS Markit Gabriel Faleiros ressaltou que grandes perdas já foram consolidadas no Sul do país, durante a primeira safra de milho, devido à seca.
Com a conclusão da colheita de verão, ele disse que há chance de os números finais indicarem a menor produção para a primeira safra em 20 anos, com base na série histórica da Conab.
No entanto, os especialistas ouvidos pela Reuters alertaram que os mesmos riscos climáticos relacionados ao La Niña que atingiram a safra de verão podem persistir durante o desenvolvimento da segunda safra brasileira.
Segundo a analista do Rabobank Brasil focada no mercado de grãos e oleaginosas Marcela Marini, o International Research Institute (IRI) prevê que há 77% de chances de ocorrência de La Niña entre os meses de março, abril e maio, o que pode potencializar perdas relacionadas à produtividade no Paraná e no sul do Mato Grosso do Sul, regiões que já obtiveram menor produtividade nas colheitas de soja e milho verão.
"Com isso, apesar da perspectiva de uma safra recorde, o clima durante o desenvolvimento da safrinha será crucial para a consolidação de uma safrinha recorde durante a safra 2021/22", disse ela.
Na hipótese de as condições climáticas favorecerem, a IHS Markit, que atualizou seus números nesta quinta-feira, prevê uma segunda safra de milho em 90 milhões de toneladas, com aumento de 45% em relação a 2020/21, afirmou Faleiros.