Por Howard Schneider
WASHINGTON (Reuters) - Após dois anos de progresso na inflação e crescimento econômico persistente, o Federal Reserve se reunirá na próxima semana com um olho nas novas políticas do governo de Donald Trump e outro em um mercado de Treasuries que tem elevado os rendimentos, mesmo enquanto o banco central corta a taxa de juros.
Ambos representam possíveis desafios em uma economia em que a inflação tem se aproximado lentamente da meta de 2% do Fed, sem a recessão e o aumento do desemprego que algumas autoridades acreditavam ser necessário para que as pressões dos preços diminuíssem.
Em vez disso, a taxa de desemprego caiu para 3,4% e terminou 2024 em 4,1%, próximo do que muitos economistas acham que a economia pode suportar sem reacender as pressões dos preços; a inflação desacelerou para talvez meio ponto percentual da meta do Fed, enquanto as empresas criaram mais de 250.000 empregos em dezembro.
Esse pouso suave poderá enfrentar novos desafios nos próximos meses, com mudanças significativas na política comercial dos EUA, na imigração e em outras áreas, e com os investidores elevando os rendimentos da dívida do governo dos EUA e dos empréstimos ao consumidor, como hipotecas.
"O mercado de títulos parece incrivelmente frágil", com as taxas subindo cerca de um ponto percentual nos últimos meses e a taxa média da hipoteca de 30 anos atingindo novamente 7%, disse Mark Zandi, economista-chefe da Moody's Analytics, em um seminário sobre perspectivas econômicas no Travelers Institute na semana passada.
Embora o rendimento do Treasury de 10 anos na faixa de meados de 4% possa ser historicamente normal, "acho que há um risco significativo de que possamos ver taxas de juros de longo prazo muito mais altas", disse Zandi.
O Fed deve manter a taxa de juros inaterada na faixa atual de 4,25% a 4,50% em sua próxima reunião de política monetária, em 28 e 29 de janeiro, depois de reduzi-la em um ponto percentual desde setembro.
Embora a declaração de política monetária possa sofrer pouca ou nenhuma alteração, o chair do Fed, Jerome Powell, em sua coletiva de imprensa após a reunião, poderá definir o tom para os próximos meses.
De fato, a incerteza estava em plena exibição na segunda-feira, quando o presidente Donald Trump foi empossado para um segundo mandato na Casa Branca. Ele prontamente cumpriu algumas promessas de campanha - emitindo decretos sobre segurança nas fronteiras e política energética, por exemplo - mas optou por não impor tarifas de importação.
O discurso de posse de Trump indicou que ele continua comprometido com alguma forma de regime tarifário, e suas promessas de campanha já aumentaram a incerteza para o Fed, uma vez que as autoridades se perguntaram quão abrangentes poderiam ser as novas tarifas e se elas desencadeariam o tipo de resposta dos países e setores visados que poderiam criar uma pressão inflacionária mais persistente.
De fato, semanas antes da posse de Trump, várias autoridades do Fed já estavam tentando levar em conta as mudanças de política previstas em suas próprias perspectivas, e o próprio Powell fez algumas referências à necessidade de uma abordagem "cautelosa" a partir desse ponto em sua coletiva de imprensa pós-reunião de 18 de dezembro.
Seja qual for o resultado e o cronograma, os rendimentos dos Treasuries já estão subindo de uma forma que pode se tornar uma restrição aos planos do governo Trump que incluem grandes cortes de impostos - algo com que os parlamentares republicanos já estão começando a contar - e um desafio para o Fed decifrar.
Os rendimentos dos títulos vinculados à inflação e outras medidas de expectativas de inflação no mercado ainda não provocaram esse tipo de preocupação. Eles aumentaram nos últimos meses, mas ainda são considerados em linha com as médias históricas e consistentes com as metas de inflação do Fed.
No entanto, os recentes acontecimentos no mercado têm levantado uma preocupação de longo prazo sobre o aumento dos empréstimos do governo dos EUA e se os investidores globais exigirão retornos cada vez mais altos para os riscos percebidos em relação à trajetória fiscal do país.