Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - O Brasil tem estoques de fertilizantes que devem durar até outubro, quando se intensifica o plantio da safra de grãos de verão, o maior do país, disse a ministra da Agricultura brasileira, Tereza Cristina, tentando tranquilizar preocupações em torno da oferta de adubos diante da guerra na Ucrânia.
O país importa cerca de 85% do seu consumo de fertilizantes, incluindo potássio, que enfrenta um "gargalo" maior em função do conflito e de sanções ocidentais a Belarus, importante produtor. No caso dos potássicos, as compras externas do país somam 96% do consumo.
Tanto os bielorrussos quanto os russos são grandes fornecedores de potássio ao Brasil, mas há restrições geopolíticas e as sanções aplicadas pelo Ocidente à Rússia.
"O que tenho de informação do setor privado é que temos um estoque de passagem que dá pra chegar até outubro, quando começamos a nossa safra de verão, que é a maior. Isso já está contratado", afirmou a ministra, em entrevista à CNN Brasil nesta quarta-feira.
"O que nós precisamos é mais alguma coisa (além dos estoques de passagem), e essa é a preocupação. Tem coisa embarcada em navios, tem coisas que não foram embarcadas ainda, e tudo vai depender de como é que a guerra vai se dar. Se amanhã acaba a guerra, vamos ver como vai ser a movimentação da carga", acrescentou ela.
Ela comentou que atualmente não há nenhum navio no Mar Negro transportando fertilizantes, pois "a contratação de seguro das cargas está suspensa por cláusula de guerra".
"Temos estoque de passagem que dá para começar a fazer a nossa próxima safra, mas temos de acompanhar o restante que está chegando, de onde vem e como vem, para que possamos ter segurança total para a próxima safra."
Ela pediu "muita cautela", apesar de ter ressaltado que o problema não pode ser minimizado, e há preocupação com custos dos produtos.
Destacou que a segunda safra de milho, a maior do Brasil, já tem fertilizantes suficientes para o plantio, que está sendo realizado.
A ministra comentou ainda sobre planos de viajar ao Canadá, maior produtor global de potássio, com o objetivo de auxiliar o setor privado a garantir ofertas. De acordo com ela, os canadenses estão reativando minas para suprir a lacuna deixada por Rússia e Belarus.
PLANO E SEGURANÇA NACIONAL
A ministra disse que o governo espera ter pronto neste mês um plano nacional do setor de fertilizantes, que estava sendo revisado pelas pastas da Economia e Agricultura.
"A Casa Civil, até o dia 17 de março, acho que estará com isso pronto, é data que tínhamos convencionado", comentou ela, observando que o programa buscará minimizar gargalos de legislação, tributários e principalmente relacionados questões ambientais, para o desenvolvimento nacional do setor.
Mais tarde, a jornalistas, Tereza Cristina esclareceu que o plano será anunciado ainda em março, possivelmente entre os dias 20 e 29, a depender da agenda da Casa Civil. "Quando chegamos no ministério vimos a necessidade... nós não vamos ter autossuficiência, mas vamos mudar essa matriz", afirmou ela.
A ministra indicou na entrevista à CNN que o plano será importante para agilizar a aprovação de licenças ambientais, pois em alguns casos "demora cinco a dez anos, e investidores acabam desistindo de explorar esse potencial".
Ela citou um projeto de potássio no Amazonas, na região de Autazes, onde há uma reserva "gigantesca" que pode ser explorada, "que supriria 25% do que hoje nós importamos, que está aí em torno de 96%".
A Reuters noticiou em meados do mês passado que o empresário e ex-ministro Blairo Maggi estava negociando com o investidor canadense Stan Bharti parceria para desenvolvimento de uma mina em Autazes, que seria a maior de potássio da América Latina.
A ministra disse que o plano deverá permitir que o Brasil avance nos projetos "na área ambiental, não precarizando, mas tendo uma agilidade maior, fazendo as compensações necessárias e vendo a importância para o país ter todo esse potencial que pode ser utilizado para a produção de alimentos".
A ministra disse que o plano nacional terá políticas também para fósforo, e espera que a abertura do mercado de gás no Brasil aumente a oferta da importante matéria-prima para produção de ureia e amônia.
"Estamos trabalhando para ter o menor dano possível, para caminhar não para autossuficiência, mas para ter maior produção interna, isso nos dá garantias da segurança e segurança nacional da produção."
Ela citou também ações mais imediatas, considerando que o plano tem um foco mais no longo prazo. Entre elas, citou estudos da Embrapa que poderão ser implementados para otimização do uso de adubos.
"Vamos fazer isso caminhar mais rapidamente, para que o produtor possa usar um pouco menos, mas manter a produtividade, isso é uma redução de custos, tem os bioinsumos, neste momento podemos fazer com que isso caminhe mais rápido, usando pó de rocha, que pode ajudar na diminuição do custo de produção."
Para a ministra, "se a guerra durar mais tempo, as consequências serão maiores". Mas ela espera que haja bom senso e que o conflito seja encerrado rapidamente.
POLÍTICA
Questionada sobre comentários que indicam seu nome como candidata a vice na chapa de Jair Bolsonaro nas próximas eleições, a ministra evitou afirmações mais específicas.
"Como posso ser candidata a vice? Não existe candidatura a vice, existe convite, isso o presidente Jair Bolsonaro vai fazer na hora que ele entender e à pessoa que ele entender que é", disse.
Ela não quis dizer se aceitaria um eventual convite, mas comentou ter ficado feliz com a lembrança de seu nome.