Por Gustavo Bonato
SÃO PAULO (Reuters) - As atuais cotações do real ante o dólar e da soja na bolsa de Chicago conseguiram destravar, em parte, a comercialização da nova safra da oleaginosa no Brasil, mas muitos produtores ainda estão relutantes em fechar negócios, disseram analistas e agentes do mercado nesta terça-feira.
A moeda norte-americana registrou na segunda-feira sua maior alta em três anos, de 2,7 por cento, fechando em 2,52 reais, na maior cotação desde 2005, depois de Dilma Rousseff ser confirmada para um segundo mandato como presidente da República.
Já a soja negociada na bolsa de Chicago tocou nesta terça-feira a maior cotação em cerca de seis semanas, após sofrer fortes perdas desde meados do ano devido às perspectivas de um mercado bem abastecido por safras recordes nos Estados Unidos e no Brasil.
O primeiro vencimento da soja na bolsa de Chicago tinha leve alta por volta das 15h (horário de Brasília), a 10,0825 dólares por bushel, após tocar 10,345 dólares, maior patamar desde 2 de setembro, impulsionado por forte demanda no mercado físico de farelo de soja nos EUA.
"Não é uma janela, é uma varanda de oportunidade para o produtor (fechar negócios)", disse o presidente da consultoria AGR Brasil, Pedro Dejneka, nos Estados Unidos. "A alta em Chicago foge de fundamentos de médio a longo prazo... e a alta é excelente para o produtor."
No entanto, a combinação de preços melhores para a soja e boa taxa de conversão em reais ainda não foi suficiente para recuperar o atraso na comercialização da safra 2014/15, que já está sendo plantada.
"Os vendedores estão irredutíveis ainda. Começaram a sair negócios, mas não tanto quanto em anos anteriores. A comercialização está lenta ainda", disse o diretor da Grãomar Corretora, João Claudio Pereira da Silva, de Maringá (PR).
Segundo ele, foram fechados negócios na região na segunda-feira a 62 reais por saca de soja, com entrega em fevereiro. Cerca de 20 a 30 dias atrás, os valores estavam em 59,50 reais.
"Tenho visto negócios com soja safra velha e da nova, nada absurdo. Mas como estava totalmente travado, um pouco que sai já se faz perceber", disse Flávio França Jr., da França Junior Consultoria.
Após vários anos de margens folgadas na comercialização, em meio a preços elevados no mercado internacional e doméstico, os produtores enfrentam em 2014/15 uma situação bem diferente: as cotações mais baixas em quatro anos e margens apertadas.
O resultado é uma retração nas vendas, em meio à expectativa de uma recuperação ainda maior nas cotações.
"No geral, quando o mercado sobe, há uma tendência dos vendedores esperarem por preços ainda melhores", analisou França Jr.
VOLATILIDADE
Os analistas ressaltam que o componente mais volátil dos preços da soja no Brasil é o câmbio, que pode regressar a patamares mais baixos --como já começou a acontecer nesta terça-feira, com um ajustes após a expressiva alta de segunda. Por volta das 15h, o dólar já recuava 1,5 por cento.
"A reação do dólar quanto à eleição indica que há espaço agora para ele cair", salientou Dejneka.
Até o início de outubro, a comercialização antecipada da safra de soja 2014/15 estava em 13 por cento, contra 27 por cento da média histórica, segundo França Jr.
Em Mato Grosso, pelos dados do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), a comercialização atingiu em outubro 16 por cento do volume a ser colhido, contra vendas de 41 por cento no mesmo período da temporada 2013/14.