Por Letícia Fucuchima
SÃO PAULO (Reuters) - A Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) começou a operar no mês passado uma nova infraestrutura para processamento e armazenamento de dados, uma das principais frentes de seu plano de transformação tecnológica em preparação para a abertura total do mercado livre de energia brasileiro no futuro.
O novo datacenter, que recebeu cerca de 60 milhões de reais em investimentos, vem trazendo ganhos relevantes para as operações dos agentes, principalmente mais agilidade e estabilidade, e já capacita a instituição a receber um volume ainda maior de dados quando o mercado livre for aberto a milhões de consumidores, inclusive residenciais.
"Ainda falta um caminhar, mas a CCEE está devidamente preparada até o final do ano para que possa ocorrer a abertura do mercado de baixa tensão o quanto antes", disse à Reuters o presidente do conselho de administração da CCEE, Alexandre Ramos.
Uma das principais entidades do setor elétrico, a CCEE é responsável pela gestão e liquidação financeira da compra e venda de energia elétrica, em operações que somam bilhões de reais. A câmara também faz medição de consumo, organiza os leilões de energia do mercado cativo, cuida da cobrança de encargos do setor, entre outras atribuições.
A abertura do mercado livre para todos os consumidores de energia ligados em alta tensão a partir deste ano exigiu que a CCEE também se reposicionasse, com processos e tecnologias à altura do crescente volume de dados dos novos consumidores, apontou Ramos.
Com as novas tecnologias contratadas, a organização passou a oferecer para os seus agentes um tempo de resposta até dez vezes mais ágil nos seus sistemas. As melhorias também tornaram o desempenho das plataformas tecnológicas mais estável, mesmo em dias de alto volume de operações.
A capacidade de processamento, em hiper convergência, passou de 1.200 GHz para 3.500 GHz, enquanto a capacidade de armazenamento em banco de dados aumentou de 250 terabytes para 750 terabytes.
"A gente usou uma tecnologia nova, são discos, memórias e processadores mais recentes. Ou seja, essas plataformas que a CCEE está trabalhando hoje são o que há de mais moderno no mundo comercial hoje", explicou Edson Lugli, gerente executivo de Suporte e Infraestrutura da CCEE.
A nova infraestrutura já tem gerado retornos muito positivos do lado dos agentes, com redução das reclamações, disse Ramos. Segundo ele, os sistemas apresentaram uma melhoria média de desempenho de 50%, e a ferramenta de Divulgação de Resultados e Informações (DRI) apresentou performance 65% mais rápida após a implementação do projeto.
Os executivos destacaram o crescimento do número de agentes ligados à CCEE desde a liberalização para a alta tensão neste ano, que vem trazendo principalmente pequenas e médias empresas a um mercado antes acessível apenas a grandes consumidores, como indústrias e shoppings.
De janeiro a maio, a CCEE já registrou a entrada de 8.936 novos consumidores. Até o final de 2024, já está prevista a migração de mais 23,8 mil consumidores, e mais 884 estão programados para concluir o processo em 2025.
Isso representará um salto importante frente aos pouco mais de 38 mil consumidores registrados na câmara no fim de 2023.
"Os dados de medição (de consumo), por exemplo, são coletados a cada cinco minutos. Então se torna um volume de dados gigantesco para você processar... Esse crescimento vai acompanhando uma linha quase que linear: cresceu o número de agentes, cresce o número de medidores, o número de contratos, o número de pessoas demandando processos", disse Lugli.
"E informações extremamente sigilosas, porque dizem da operação do agente. Então além de você garantir a disponibilidade do serviço e a operação deles, você tem que garantir a proteção aos dados", acrescentou o gerente da CCEE.
Já o presidente do conselho da CCEE destacou que outros investimentos e aprimoramento tecnológicos vão ser necessários. Uma das principais metas para o futuro é reduzir os prazos de contabilização e liquidações financeiras, que hoje ocorrem com um atraso de até dois meses. A ideia é que esse processo possa ocorrer em tempo real.
Ramos também lembrou que no mercado de alta tensão há um potencial de migração de cerca de 72 mil unidades, mas que esse número vai a quase 90 milhões quando considerada a baixa tensão, que inclui por exemplo a classe residencial, que hoje compra energia do mercado cativo das distribuidoras.
"Nós criamos realmente um canal (de integração) que vai nos possibilitar atender não só as demandas da abertura do mercado de alta, como principalmente o nosso objetivo final que é a abertura do mercado de baixa tensão", frisou.
(Por Letícia Fucuchima)