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CENÁRIOS-Máquinas e armazenagem sentirão impacto de margens apertadas para soja

Publicado 19.09.2014, 17:24
CENÁRIOS-Máquinas e armazenagem sentirão impacto de margens apertadas para soja

Por Gustavo Bonato

SÃO PAULO (Reuters) - O baixo volume de soja comercializada antecipadamente e as perspectivas de menores rentabilidades previstas para a safra 2014/15 no Brasil, que está começando a ser plantada, deverão reduzir o ímpeto de investimento dos produtores e impactar indústrias como as de maquinário e de armazenagem nos próximos meses, disseram especialistas.

Os preços da oleaginosa vêm despencando no mercado internacional nos últimos meses, em meio a perspectivas de colheitas recordes nos Estados Unidos e no Brasil, e já operam no menor patamar em mais de quatro anos.

Muitos produtores já sentiram que os preços oferecidos para a nova safra no Brasil serão menores. E se retraíram.

"Em níveis médios, é um ano de muito aperto, de evitar qualquer tipo de investimento que possa ser adiado", disse o presidente da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja MT), Ricardo Tomczyk.

Nos últimos dias, mesmo com o dólar batendo a maior cotação em seis meses ante o real, os negócios seguem travados, devido aos preços oferecidos. Cerca de 10 por cento da safra 2014/15 está comercializada antecipadamente, contra 25 por cento das vendas da safra 2013/14 um ano atrás, e 22 por cento da média histórica para o período, segundo estimativa da França Junior Consultoria.

"Os custos de plantio estão a descoberto, o que não é uma prática comum. Este ano foi muito atípico. O produtor se retraiu porque não via um mercado interessante, e o mercado só piorou", acrescentou Tomczyk.

Os efeitos do aperto de rentabilidade já vêm sendo percebidos nas concessionárias de máquinas agrícolas no interior do país.

"O produtor sente que a perspectiva nos próximos meses é de retração. Ele está querendo ver o que vai acontecer, ele se resguarda", contou à Reuters Renato Granato, gerente para Mato Grosso da Agro Amazônia, uma das maiores redes de revendas de máquinas agrícolas do Estado, o maior produtor de soja do Brasil.

Dados da Anfavea, associação que reúne as grandes montadoras do país, mostram que as vendas de tratores agrícolas e colheitadeiras de grãos entre janeiro e agosto desde ano, em volume, estão 17 por cento abaixo do registrado no mesmo período de 2013.

Estudo da consultoria Agroconsult apontou que o lucro dos produtores de soja, milho, trigo e algodão na safra 14/15 não será suficiente para manter o nível de investimento planejado. Em outras palavras, eles terão que recorrer ao mercado financeiro ou às suas poupanças para cobrir cerca de 2 bilhões de reais em investimentos.

Em 13/14, com margens mais folgadas e preços melhores, o saldo após investimentos ficou positivo em mais de 4 bilhões de reais. Em 12/13, o resultado positivo havia sido de quase 11 bilhões de reais.

CRIATIVIDADE NA ARMAZENAGEM

O final de 2014 e o início de 2015 também exigirá "criatividade" do setor de armazenagem, na palavra do responsável pelas vendas na América Latina da GSI, maior fabricante mundial de silos e armazéns.

"Nós temos que ser um pouco mais criativos. O ganho (do setor agrícola) foi muito fácil nos últimos anos", disse o diretor de vendas e marketing para armazenagem da GSI América do Sul, José Luiz Viscardi Jr.

Ele lembra que linhas de crédito com juros abaixo da inflação oferecidas pelo governo brasileiro e investimentos de grandes tradings, que vislumbram os negócios não apenas no curto prazo, deverão manter um certo crescimento do setor.

No entanto, a redução das margens e o cenário eleitoral tornam mais difícil fechar negócios principalmente com pequenos e médios produtores.

"Pode haver um pequeno decréscimo (no ritmo de crescimento do setor de armazenagem). Temos um ano eletivo e isso contribui com uma retração do mercado, até termos uma definição do novo presidente", afirmou o executivo.

Analistas apostam que ao longo de 2015 os recursos dos produtores estarão mais focados na aquisição de insumos necessários para garantir a boa produtividade da safra seguinte, como fertilizantes e defensivos. Além da compra de maquinário mais lenta, poderia haver uma redução no ritmo de expansão de área plantada já em 2015/16.

"Há uma redução na compra de máquinas, tratores e colhedeiras... Também haverá impacto em abertura de novas áreas... Acho que já pega um pouco a safrinha de milho em 2014 e a soja 2015/16", projetou o diretor da consultoria MB Agro, José Carlos Hausknecht.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projeta que o plantio de soja que começa nas próximas semanas (safra 2014/15) crescerá cerca de 5 por cento ante a temporada anterior, para um recorde de 31,6 milhões de hectares, com os produtores ainda bastante capitalizados após alguns anos de margens folgadas. Além disso, a oleaginosa ainda será uma melhor opção que o milho em muitas regiões.

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