SÃO PAULO (Reuters) - Uma frente fria vai romper o bloqueio atmosférico que manteve o tempo quente e seco em boa parte do país nas últimas semanas e que prejudicou as lavouras da segunda safra de milho do Brasil, mas dificilmente o retorno das chuvas conseguirá reverter as perdas já verificadas, disseram especialistas.
"Com o avanço desse sistema meteorológico pelo interior do Brasil ao longo dessa semana, são previstas chuvas em praticamente todas as regiões do país", disse o agrometeorologista Marco Antônio dos Santos, da Somar Meteorologia, que projetou ainda uma queda nas temperaturas.
"A última semana de abril será marcada por um padrão meteorológico totalmente diferente do observado ao longo de todo o mês."
Chuvas estão previstas para esta segunda-feira no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul.
Na terça-feira, chuvas deverão atingir São Paulo, Mato Grosso, sul de Goiás e de Minas Gerais, chegando às demais áreas de Minas Gerais e Goiás e em boa parte do cinturão conhecido como Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e oeste da Bahia) e à região Norte.
"O contraste térmico desse ar polar com o ar quente da região (de Mato Grosso) forma nuvens carregadas, e há previsão de chuva desde cedo em Cuiabá, até com risco de temporais", disse a meteorologista Aline Tochio, da Climatempo, em um relatório.
A segunda safra de milho recorde esperada pelo Brasil nesta temporada 2015/16, essencial para garantir excedentes de exportação e aliviar altos preços para a cadeia produtiva de carnes, foi colocada xeque pela seca de abril.
A consultoria AgRural estimou, no início de abril, uma colheita de 54,3 milhões de toneladas na chamada "safrinha", que responde por cerca de dois terços do que o país espera produzir do cereal em 2015/16.
Contudo, para a revisão de estimativa de maio, a tendência é de corte neste número, disse a analista Daniele Siqueira.
"Aparentemente, o Centro-Oeste vai receber pouca coisa (de chuvas). Parte da safra já se perdeu, especialmente em Goiás. Mas ainda é bem difícil quantificar a perda", disse ela.
Segundo ela, "se chover bem em maio", é possível que as lavouras plantadas tardiamente, fora da janela de ideal de clima, sejam beneficiadas, "o que seria irônico".
"Mas sempre temos que lembrar que chover bem em maio no Cerrado é exceção, não regra", afirmou a Daniele.
De fato, o tempo seco retornará ao centro-sul do Brasil após as precipitações desta semana. Há previsão ainda de duas ocorrências de chuvas em áreas de milho ao longo de maio, uma na primeira e outra na segunda quinzena do mês.
"O problema é que todas essas chuvas são de baixa intensidade e localizadas. Não serão generalizadas", disse Santos, da Somar.
Na semana passada, o Departamento de Economia Rural (Deral) do Paraná informou que as condições das lavouras do Estado caíram levemente, já como repercussão do clima seco e quente na região.
"Devido às altas temperaturas e falta de chuvas nas últimas semanas, as lavouras de milho segunda safra devem ter seu potencial produtivo reduzido, mas ainda não tem como estimar essa redução", destacou o técnico Adriano Nunomura, do Deral em Apucarana (PR).
Na avaliação de Santos, perdas irreversíveis estão sendo contabilizadas em todas as regiões produtoras do país.
"Portanto, mesmo com essa volta das chuvas, a produção nacional de milho será bastante afetada", resumiu.
(Por Gustavo Bonato)