SÃO PAULO (Reuters) - A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) anunciou nesta quinta-feira que poderá fazer compras de até 200 mil toneladas de trigo do Rio Grande do Sul, com o objetivo de apoiar o produtor gaúcho que lida com preços baixos, enquanto o governo visa reconstruir estoques públicos de alimentos básicos, afirmaram autoridades do governo.
Para realizar as compras, a Conab projeta que podem ser gastos 261 milhões de reais, caso aquisições de todo o volume projetado sejam efetivadas.
Segundo diretores da estatal, o apoio por meio do programa de Aquisição do Governo Federal (AGF) é importante após a colheita do trigo gaúcho sofrer com chuvas, que prejudicaram a qualidade de parte do cereal do Rio Grande do Sul.
O Estado, maior produtor de trigo do Brasil que ainda lida com os efeitos das enchentes históricas do primeiro semestre, havia colhido cerca de 50% de sua safra até o final de outubro.
O volume anunciado para AGF, contudo, representa menos de 5% da produção total do Rio Grande do Sul, estimada pela Conab em 4,2 milhões de toneladas.
"A Conab voltou de um jeito sereno e forte", disse o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, em entrevista a jornalistas.
Segundo o diretor-executivo de Política Agrícola e Informações da Conab, Sílvio Porto, caso os produtores optem por vender o produto ao governo, esse trigo iria para estoques públicos.
Esses estoques poderiam eventualmente ser vendidos ao mercado pela Conab durante a entressafra, disse Porto, potencialmente reduzindo importações em época de menor oferta.
"Sabemos que o volume não é expressivo, mas é preciso uma retomada, é uma recomposição de uma política relevante, de compras de milho, trigo e arroz", afirmou.
"Esta iniciativa... temos percepção de que o anúncio vai provocar uma reação de preço, talvez nem seja necessário tomarmos grandes volumes", comentou ele.
Porto disse que o excesso de chuva para o trigo atrapalhou a colheita e gerou um "problema de qualidade para parte da produção gaúcha".
Segundo ele, cerca de 40% da safra foi afetada, mas 60% será de qualidade, podendo incluir os lotes para venda ao governo.
De acordo como presidente da Conab, Edegar Pretto, o preço do trigo no mercado gaúcho está cerca de 11 reais por saca de 60 kg abaixo do piso ("preço mínimo") estabelecido pelo governo, de 78,51 reais/saca, o que exige operações de AGF do governo para apoiar os agricultores.
Segundo ele, os recursos para o governo realizar as operações de AGF terão origem em um crédito extraordinário já aprovado pelo governo de cerca de 1 bilhão de reais, que prevê também a realização de contratos públicos de opção de venda de arroz, com igual objetivo de refazer estoques do governo.
No ano passado, o governo destinou 255,7 milhões de reais para programas de PEP e Pepro de trigo, visando subsidiar o escoamento do produto. Ele disse que as operações envolveram 479 mil toneladas.
Com parte das medidas para recompor estoques públicos, o governo adquiriu 361 mil toneladas de milho em 2023, lembrou Pretto.
Disse ainda que o governo quer realizar contratos de opção para 500 mil toneladas de arroz.
(Por Roberto Samora)