Por Kate Abnett e Alison Withers
DUBAI (Reuters) - Essa é a questão central da COP28: as negociações climáticas da ONU deste ano, realizadas nos Emirados Árabes Unidos, grande produtor de petróleo, levarão ao primeiro acordo global para eliminar gradualmente o uso de combustíveis fósseis?
A queima de combustíveis fósseis para a produção de energia é, de longe, a maior causa das mudanças climáticas. É também o motor da vida moderna -- mesmo com o crescimento das energias renováveis, os combustíveis fósseis produzem cerca de 80% da energia do mundo.
As negociações climáticas da ONU nas últimas três décadas, no entanto, ainda não abordaram a questão de frente.
A COP26 em Glasgow, em 2021, fez o primeiro progresso tangível em direção a um acordo para a saída dos combustíveis fósseis com um acordo para reduzir o uso de carvão, mas sem mencionar o petróleo e o gás.
Na COP28 em Dubai, mais de 80 países estão pressionando por um pacto mais amplo para eliminar gradualmente todos os combustíveis fósseis emissores de CO2.
"A 'eliminação gradual' é uma ferramenta para atingir a meta. E a meta é um sistema de energia sem emissões", disse o ministro das Relações Exteriores da Noruega, Espen Barthe Eide, à Reuters na COP28.
"Não com baixas emissões, mas sem emissões."
Além da Noruega, o maior produtor de petróleo e gás da Europa, excluindo a Rússia, essa posição também é apoiada pelos produtores ocidentais dos Estados Unidos e Canadá, pela União Europeia de 27 países, por pequenos Estados insulares vulneráveis ao clima, por algumas nações africanas, incluindo Quênia e Etiópia, e por Chile e Colômbia.
A oposição à eliminação total dos combustíveis fósseis, disseram diplomatas à Reuters, é liderada pela Rússia, Arábia Saudita e China, que é o maior emissor de carbono do mundo.
O ministro da Energia da Arábia Saudita, príncipe Abdulaziz bin Salman, disse à Bloomberg TV na terça-feira que seu país "absolutamente não" concordaria com um acordo que exigisse uma redução gradual.
Sultan Al-Jaber, presidente da COP28 dos Emirados Árabes Unidos, disse na segunda-feira que estava pedindo aos países que propusessem uma linguagem sobre combustíveis fósseis para o acordo da COP.
"A redução gradual e a eliminação dos combustíveis fósseis são inevitáveis", disse Jaber, que também é presidente-executivo da empresa estatal de petróleo dos Emirados Árabes Unidos, a ADNOC.
Os negociadores dos países têm apenas alguns dias para chegar a um acordo antes do término da cúpula, previsto para 12 de dezembro.
EQUIDADE
Alguns representantes de nações africanas disseram que poderiam apoiar um acordo de eliminação gradual se os países ricos, que há muito tempo produzem e usam combustíveis fósseis, concordassem em parar primeiro.
"Dizer a Uganda para parar com os combustíveis fósseis é realmente um insulto. É como se você estivesse dizendo a Uganda para continuar na pobreza", disse a ministra de energia de Uganda, Ruth Nankabirwa.
Uganda, Moçambique e outros países do continente com baixas taxas de acesso à eletricidade planejam desenvolver ou expandir sua produção de petróleo e gás. Uganda começou a explorar seu primeiro poço de produção este ano.
Nankabirwa disse à Reuters que o país poderia aceitar uma eliminação gradual de longo prazo, se ficasse claro que as nações em desenvolvimento podem explorar seus recursos no curto prazo, enquanto os produtores ricos de longa data saem primeiro.
"Primeiro a entrar, primeiro a sair -- e ficaremos felizes em sermos os últimos a abandonar os combustíveis fósseis", disse ela.
Diplomatas e observadores disseram à Reuters que um grupo de países, incluindo a China e a Arábia Saudita, levantou consistentemente a questão da "equidade" durante as negociações da COP28, enfatizando a alta contribuição histórica das nações industrializadas ricas para a mudança climática.
No entanto, alguns disseram que duvidam que essas nações apoiariam uma eliminação gradual, mesmo que a questão da equidade fosse abordada.
TECNOLOGIA
Outro ponto polêmico nas negociações sobre o futuro dos combustíveis fósseis é se o acordo deve permitir a continuidade do consumo com a condição de que suas emissões de CO2, que aquecem o planeta, sejam capturadas ou "reduzidas".
Diplomatas dizem que a Arábia Saudita quer um acordo na COP28 que inclua um foco nas tecnologias de captura de carbono, que continuam caras e não são usadas em escala.
O painel de ciência climática da ONU -- o IPCC -- tem afirmado que são necessários cortes acentuados nos combustíveis fósseis para evitar mudanças climáticas mais severas. Ao mesmo tempo, ele vê um papel limitado para a captura de carbono para zerar as emissões mundiais até 2050.
Os EUA e a UE apoiam um acordo na COP28 que reconheça essas tecnologias, que podem ajudar setores poluentes, como o cimento ou o aço, a reduzir suas emissões. Mas eles querem que o acordo contenha ressalvas para evitar que as promessas de captura de carbono sejam usadas como desculpa para a manutenção do status quo.
(Reportagem adicional de Valerie Volcovici, Sarah McFarlane, Gloria Dickie)