Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - Todas as 34 usinas associadas da Copersucar, gigante global na comercialização de açúcar e etanol, foram certificadas no programa RenovaBio e poderão gerar até 6 milhões de Créditos de Descarbonização (Cbios) por ano, em momento em que a empresa vê esse mercado pronto para funcionar apesar das dificuldades impostas pela pandemia, disse uma executiva do grupo.
O volume certificado pela Copersucar é expressivo, correspondendo, por exemplo, a 41% do que as distribuidoras de combustíveis precisam comprar para neutralizar 14,5 milhões de toneladas de CO2 em 2020, conforme meta revisada pelo governo devido aos efeitos do coronavírus no setor.
Outros grandes grupos, como a Raízen, um joint venture da Cosan (SA:CSAN3) com a Shell, também já concluíram ou estão perto de obter a certificação para todas as suas usinas, com o total de produtores de etanol do Brasil certificados no RenovaBio somando cerca de 220 unidades.
A Copersucar ainda não comercializou Cbios, mas está apta a fazê-lo, disse à Reuters a gerente de Sustentabilidade e Meio Ambiente da empresa, Monica Jaén.
Ela evitou falar sobre valores que poderiam ser obtidos pela Copersucar com a venda dos Cbios, mas disse que o número total de créditos certificados e o valor referencial de cada título (10 dólares) dão uma ideia do potencial de ganho.
"O mercado está se formando, o programa precisa de um tempo para amadurecer, e temos uma questão, as metas que estão sendo avaliadas...", afirmou à Reuters a gerente.
A metas de descarbonização das distribuidoras para este ano foram reduzidas pela metade, a 14,5 milhões de Cbios, devido os efeitos da pandemia de coronavírus, segundo proposta debatida em uma consulta pública encerrada no último sábado.
Antes da crise da Covid-19 sobre o mercado de combustíveis, as distribuidoras deveriam adquirir 28,7 milhões de Cbios em 2020. Para 2021, as metas também foram reduzidas em cerca de 40%, segundo a proposta lançada em consulta pública, que recebeu pedidos de cortes menores dos produtores.
No entanto, ressaltou a executiva da Copersucar, a discussão sobre as metas das distribuidoras não é um entrave para os negócios com os títulos, até porque outros segmentos da sociedade podem comprar Cbios para neutralizar suas emissões.
De acordo com a Copersucar, até a última sexta-feira, seis negócios de Cbios tinham sido realizados via bolsa B3 entre os emissores --produtores de biocombustíveis-- e aqueles que buscam forma de neutralizar suas emissões, compulsoriamente ou não.
Os Cbios da Copersucar já são escriturados pelo Banco Santander (SA:SANB11) e estão disponíveis para comercialização.
Ao final do mês passado, a propósito, foi certificada a última usina associada da companhia, a São Francisco, em Sertãozinho (SP), que obteve a melhor nota de Eficiência Energética-Ambiental entre os produtores de etanol certificados.
Quanto maior a nota, maior o potencial para escriturar um Cbio, estabelecido em programa que deve colaborar para as metas de redução de carbono na atmosfera pelo Brasil, ao mesmo tempo em que pode impulsionar investimentos em biocombustíveis.
MOMENTO HISTÓRICO
Para o presidente-executivo da Cosan, Luis Henrique Guimarães, o início do programa de Cbios "é um momento importantíssimo para o Brasil manter a liderança na matriz energética de mobilidade mais limpa do mundo".
Segundo ele, a Cosan aprova o programa RenovaBio, mas há o "desafio da implementação", ainda mais em tempos de pandemia.
"O mais importante é o programa funcionar no primeiro ano, as empresas emitirem (Cbios), mas sabendo que é um ano de ajuste", disse ele à Reuters na semana passada, quando a empresa revelou meta de redução de 10% na pegada de carbono da produção de etanol da Raízen até 2030, entre outros objetivos em seu relatório de sustentabilidade.
Ele disse ainda que a Raízen já certificou a maioria das usinas e está "aguardando o mercado passar a funcionar". Na avaliação de Guimarães, a revisão das metas é algo natural, pois "seria impossível" as distribuidoras atingirem os alvos originais, considerando a redução de demanda de combustíveis.
Na consulta pública, contudo, produtores fizeram sugestões para que as metas não sofressem uma redução tão drástica, como indicou o governo.
De acordo com contribuição da Frente Parlamentar Mista pela Valorização do Setor Sucroenergético, a meta compulsória de compra de Cbios não deveria ser reduzida pela metade em 2020, mas em 30%, enquanto no ano que vem deveria ser cortada em apenas 10%. Os parlamentares argumentam que a redução do consumo de combustíveis devido à pandemia será menor do que a projetada.
(Por Roberto Samora; edição de Luciano Costa)