(Reuters) - A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro no Congresso Nacional aprovou nesta terça-feira o plano de trabalho elaborado pela relatora, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA), em uma votação que deixou clara a divisão entre governistas e a oposição.
Para além de apurar os ataques de 8 de janeiro às sedes dos Três Poderes, em Brasília, o plano de trabalho estabelece a investigação de eventos anteriores à posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como as tentativas de invasão da sede da Polícia Federal na capital, em 12 de dezembro, e de um ataque à bomba próximo ao Aeroporto de Brasília, em 24 de dezembro.
"Se nosso leme serão os eventos do dia 8 de janeiro, nos parece incontornável que tenhamos que esmiuçar os fatos preparatórios ao que aconteceu em tal data... entendemos que alguns fatos materializados em dezembro de 2022 não foram objeto de atenção devida", escreveu a relatora no plano de trabalho.
Gama também recomendou que a CPMI escute autoridades como o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, o antecessor na pasta, Anderson Torres, o ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Gonçalves Dias, entre outros.
Por acordo entre os membros, a votação de todos os requerimentos de convocações, convites e pedidos de informação serão realizados somente na semana que vem.
O plano de trabalho foi aprovado com voto favorável de 18 membros. Integrantes da oposição reuniram 12 votos contrários ao texto da relatora.
"Se o 8 de janeiro me evidencia uma relação com o processo eleitoral, os fatos anteriores que têm relação serão incluídos no processo de investigação... jamais eles poderiam ficar de fora", disse a senadora a repórteres após a reunião da CPMI nesta terça-feira.
A CPMI terá duração de 180 dias e deve se tornar palco de intensos embates políticos entre a base e a oposição ao governo Lula.
Levando-se em conta apenas as siglas com cargos no Executivo, o governo conta com a maioria das cadeiras na comissão. Mas a base aliada ainda não está consolidada e muitos desses partidos não entregam seus votos integralmente alinhados com o Planalto.
O STF já tornou réus mais de mil investigados, acusados de envolvimento nos ataques, e a Polícia Federal deflagrou a operação Lesa Pátria, que já realizou 12 fases para apurar os atos de 8 de janeiro.
(Por Fernando Cardoso)