SÃO PAULO (Reuters) - Os desdobramentos da crise política em Brasília, após a prisão do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), ainda não causam problemas para o agronegócio brasileiro, importante setor da economia do país, afirmou o empresário do agribusiness e senador Blairo Maggi (PR-MT).
Segundo ele, o setor no momento está preocupado com o desenvolvimento da safra 2015/16 de soja, o principal produto da pauta de exportação do Brasil, diante de chuvas irregulares em Mato Grosso.
"Uma safra de soja de 100 milhões (de toneladas, um recorde no Brasil) ocorre apenas se tudo correr muito bem (de agora em diante), mas as coisas não começaram bem", disse Maggi em entrevista à Reuters na noite de quinta-feira, antes de receber prêmio de "maior produtor e exportador individual de soja" em jantar que marcou os 50 anos da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec).
Na temporada 2014/15, o Brasil colheu históricas 96,2 milhões de toneladas. Mato Grosso é o maior produtor brasileiro de soja, com cerca de 30 por cento da produção nacional.
O senador, da família proprietária do grupo Amaggi, um dos maiores da América Latina no ramo do agronegócio, ponderou que ainda é cedo para estimar o tamanho das perdas na safra de soja de Mato Grosso, onde a empresa possui várias de suas fazendas e operações industriais.
Mas ele destacou que a situação da lavoura é preocupante.
"Muitos produtores (de Mato Grosso) perderam a melhor época de plantio e vai ter muito replantio", afirmou ele, citando riscos para a produção.
O replantio de áreas perdidas pelo tempo seco também eleva os custos dos agricultores.
CRISE POLÍTICA
Segundo ele, o setor do agronegócio tradicionalmente não fica paralisado diante das crises políticas e econômicas, e não vai ser dessa vez que isso ocorrerá.
"(A crise política) não grudou no setor, mas teremos de observar quem está vendido e comprado (em soja) em reais versus dólares. Se o produtor ficou com soja na mão e com dívida em reais, ele está muito bem", afirmou Maggi, lembrando um dos aspectos positivos do dólar forte para a formação de preços na moeda brasileira.
Segundo Maggi, a agricultura não é como outros setores da economia, como o automobilístico, que podem parar a produção quando a situação econômica não vai bem.
"Não olhamos as crises no curto prazo", afirmou ele, ex-presidente da Anec, que confirmou à Reuters estar de mudança de partido, para o PMDB.
O dólar forte, comentou Maggi, tem sido um importante escudo para produtores brasileiros ante a queda dos preços internacionais da soja, cujo mercado está sendo afetado por grande oferta.
(Por Roberto Samora)