SÃO PAULO (Reuters) - A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) pretende apresentar em outubro um parecer sobre a liberação comercial de trigo geneticamente modificado, informou o órgão após reunião realizada nesta quinta-feira.
O controverso tema, considerando que ainda não há trigo transgênico sendo consumido no mundo, foi mais uma vez retirado de pauta na reunião deste mês, pois a comissão está avaliando informações que haviam sido pedidas à companhia solicitante, Tropical Melhoramento & Genética (TMG), segundo o presidente da CTNBio, Paulo Barroso.
"Conforme falo que o processo de trigo geneticamente modificado, de farinha de trigo geneticamente modificado, ressalto, farinha de trigo geneticamente modificado, foi retirado de pauta", afirmou Barroso, em vídeo veiculado pela internet.
Segundo ele, a empresa solicitante encaminhou respostas que a CTNBio havia pedido, a agora "os relatores estão trabalhando nessa resposta de tal modo a ter um parecer para ser apresentado em outubro".
O trigo analisado pela CTNBio proporciona, segundo a pauta da comissão, "aumento de produtividade em situações e ambientes de baixa disponibilidade hídrica" e é resistente ao herbicida glufosinato.
O pedido é para que o produto possa ser utilizado em alimentos, rações ou produtos derivados ou processados.
Na hipótese de aprovação, o produto seria importado da Argentina, onde já teve aval do governo local, fato que gera preocupação para os moinhos, diante de temores sobre as reações dos consumidores devido ao ineditismo da iniciativa.
Até o momento, o consumo de produtos com o cereal modificado não é autorizado em nenhum país do mundo. Em caso positivo, o Brasil seria o primeiro.
A soja e o milho transgênicos são dominantes na agricultura do Brasil e de outras partes do mundo, mas esses produtos geralmente são utilizados para alimentação animal, não sendo destinados diretamente ao consumo humano, como é o caso da farinha de trigo.
A indústria brasileira de trigo já está preparada para contestar uma eventual aprovação da CTNBio e, neste caso, deve solicitar junto a outros membros do setor que o tema seja analisado pelo Conselho Nacional de Biossegurança, composto por ministros, para que o governo se pronuncie sobre a conveniência da medida.
O governo da Argentina aprovou a comercialização da variedade transgênica de trigo HB4 da empresa de biotecnologia Bioceres, embora tenha destacado que o produto só poderá ser negociado depois de autorizada a importação pelo Brasil, conforme publicação no Diário Oficial argentino em outubro do ano passado. Reportagem da Reuters antecipou a medida na véspera da publicação.
(Por Nayara Figueiredo)