Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) - O desligamento de termelétricas anunciado semana passada pelo Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) beneficia não só o consumidor, que paga pela operação dessas usinas, mas também as hidrelétricas, que serão mais acionadas para atender a carga, e assim terão um déficit de geração menor neste ano, avalia a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).
O conselheiro da CCEE Roberto Castro estimou à Reuters que o déficit hídrico previsto para este ano deve cair para cerca de 15,8 por cento, ante 17,8 por cento anteriormente estimados.
"É uma boa notícia do lado do consumidor, com redução tanto do custo do encargo (que custeia o uso das térmicas), quanto do lado da geração, com a melhora da condição do déficit hídrico", disse Castro.
Com a seca registrada nos últimos dois anos, todas as térmicas estavam ligadas para garantir a oferta de energia, o que causava perdas aos donos de hidrelétricas, que estão gerando abaixo do que precisariam por contrato, sendo obrigadas a comprar energia no mercado de curto prazo.
A melhoria das chuvas e a redução do consumo de energia que possibilitaram o desligamento das térmicas resultaram também em preços menores da energia no mercado de curto prazo, o que também favorece as usinas hídricas, que ainda pagarão menos para cobrir os déficits.
Depois de passar entre janeiro e abril em 388 reais por megawatt-hora, o Preço de Liquidação de Diferenças (PLD), valor de curto prazo da energia, começou a cair e hoje está em cerca de 130 reais por megawatt-hora.
BENEFÍCIO ANTES NO MERCADO LIVRE
Com a queda do consumo, puxada pela desaceleração econômica e por uma forte elevação das tarifas, o Ministério de Minas e Energia havia pedido, em reunião do CMSE em julho, que o comitê avaliasse o desligamento das usinas mais caras "dado o impacto tarifário" que a continuidade do despacho ao longo do ano poderia acarretar.
O ministro Eduardo Braga estimou em 5 bilhões de reais a redução na conta de encargos gerada pela decisão.
Do lado do consumidor, no entanto, os primeiros beneficiados com o desligamento das térmicas mais caras devem ser os grandes usuários de energia, como indústrias e centros comerciais que optam por negociar contratos de suprimento diretamente com geradores e comercializadoras, no mercado livre de eletricidade.
Isso porque haverá redução em encargos que esses consumidores pagam diretamente, enquanto os clientes regulados, como os residenciais, que são atendidos por distribuidoras, só veriam esse custo nos próximos reajustes tarifários.
"Quando você afeta o encargo, ele reduz no mercado livre de uma forma direta, ele tem uma redução imediata, enquanto a forma como isso vai chegar no consumidor cativo é diferente", explicou Castro, da CCEE.
Além da baixa nos encargos, o próprio preço da energia no mercado livre já está em baixa.
Segundo a comercializadora Bolt Energias, clientes que procuram suprimento para 2016 encontram contratos na faixa de 185 reais por megawatt-hora, contra 240 reais por megawatt-hora praticados para o mesmo contrato em janeiro de 2015, segundo dados da plataforma de negociação de energia Brix.
"A queda no preço da energia negociada no mercado livre é determinada, principalmente, pela melhora das afluências nas regiões Sul e Sudeste e pela redução de 4 por cento da demanda por energia --especialmente nos segmentos da indústria, comércio e serviços", apontou a comercializadora em relatório.
"Está voltando uma tendência de que vejamos uma migração maior de empresas para o mercado livre, que ainda tem uma facilidade de responder ao estímulo de preço com maior rapidez que o mercado regulado. Sempre que tem redução do PLD, tem uma tendência de migração maior", avaliou Castro, da CCEE.
A adesão de empresas ao mercado livre de energia teve forte alta em 2012, mas registrou dois anos de queda após a redução das tarifas das distribuidoras, em 2013, segundo dados da CCEE.