Por Nayara Figueiredo
SÃO PAULO (Reuters) - Governo, empresas e entidades que representam diversos setores do agronegócio do Brasil têm alinhado um discurso de garantia de abastecimento de alimentos no país, em meio à crise do coronavírus.
Por meio de comunicados, publicações em redes sociais e propagandas publicitárias, o objetivo é tranquilizar a população para evitar compras excessivas no varejo para formação de estoque domiciliar, em meio ao avanço do vírus no país, que já supera 1.600 casos confirmados no Brasil.
A Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), entidade que representa as indústrias de café torrado e moído do país, informou nesta segunda-feira que, “apesar dos problemas causados pela pandemia do Covid-19, logísticos e operacionais, o abastecimento do café seguirá normalmente”.
Os moinhos de trigo contam com estoques de matéria-prima, embalagens e materiais auxiliares em nível compatível com as vendas, mesmo ante o aumento na demanda ocorrido no curto prazo, disse a Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo). O fluxo de recebimento destes materiais continua ocorrendo normalmente.
“O principal foco dos moinhos neste momento é garantir o abastecimento de toda a cadeia do trigo – supermercados, atacados, padarias, indústrias de massas, biscoitos, pães industriais e bolos e demais canais de food service.”
Também nesta segunda-feira, a oferta de carne de aves e suínos foi garantida pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS) e a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) por meio de uma nota conjunta.
“As granjas, as indústrias frigoríficas e os supermercados do Brasil não interromperam seu funcionamento e estão priorizando o cumprimento das normas do Ministério da Saúde com relação às medidas preventivas”, disse o comunicado assinado pelos presidentes das três associações.
Ainda foi citado o compromisso de “manutenção de preços justos” pelo produto comercializado no varejo.
No setor de carne bovina, a Marfrig (SA:MRFG3) Global Foods informou, em nota, que as operações de suas 14 plantas espalhadas entre Brasil, Estados Unidos, Argentina, Uruguai e no Chile, estão em operação e continuarão a funcionar, de forma a garantir a oferta nestes mercados e as exportações da companhia para mais de 100 países.
No âmbito do governo, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, usou sua conta no Twitter para afirmar, em vídeo publicado no último sábado, que a pasta vem acompanhando todos os dias os fluxos das cadeias produtivas, para que sejam mantidos.
“A agropecuária está incluída nos serviços essenciais porque o alimento é básico para a sobrevivência das pessoas”, enfatizou enaltecendo, também, a figura do produtor rural.
EMBATES
Em Santa Catarina, um sindicato de trabalhadores da indústria de carnes do município de Criciúma e região chegou a solicitar judicialmente a paralisação das atividades de duas unidades da Seara, controlada pelo grupo JBS (SA:JBSS3), como medida de contenção ao surto do novo coronavírus.
A companhia, no entanto, conseguiu manter as atividades por meio de uma liminar do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) com a justificativa de que a medida “interrompe uma atividade considerada essencial e gera alto risco de desabastecimento de proteína animal à sociedade”, disse a decisão a qual a Reuters teve acesso.
”A JBS informa que foi deferida liminar que autoriza a retomada imediata de suas atividades nas unidades de Forquilhinha e Nova Veneza, em Santa Catarina… A decisão reafirma o firme propósito da companhia de não comprometer a produção e o abastecimento de alimentos de qualidade, atividade essencial ainda mais necessária em todo o país neste momento”, afirmou a empresa à Reuters.
Apesar do posicionamento do sindicato de Criciúma, a Associação Catarinense de Avicultura (Acav) e o sindicato estadual de carnes (Sindicarne) afirmaram que manterão seus níveis de produção.
Em outra frente, um decreto municipal de Rondonópolis (MT), importante polo agroindustrial e logístico de Mato Grosso, determinou o fechamento de todos os serviços não essenciais e ordenou a suspensão de operações nas indústrias locais, em resposta à crise do coronavírus, de acordo com um decreto municipal de 21 de março.