Por Julie Steenhuysen
CHICAGO (Reuters) - Cientistas dos Estados Unidos identificaram uma variedade geneticamente modificada de camundongos que desenvolve Zika, uma ferramenta importante necessária para o teste de vacinas e medicamentos para o tratamento do vírus que se espalha rapidamente pelas Américas e o Caribe.
Testes iniciais nos camundongos mostram o vírus crescendo nos testículos, oferecendo pistas sobre como um vírus tipicamente transmitido por picada de mosquito pode ser transmitido sexualmente.
"Nós vamos fazer experimentos para ver se podemos produzir a transmissão sexual” nesses camundongos, disse Scott Weaver, virologista do Departamento Médico da Universidade do Texas, que trabalhou no estudo publicado nesta segunda-feira no periódico norte-americano Journal of Tropical Medicine and Hygiene.
Weaver afirmou que o modelo de camundongo com Zika vai propiciar um ferramenta importante para permitir que companhias e cientistas testem vacinas e drogas contra o vírus que tem sido relacionado com milhares de casos de microcefalia, uma má-formação cerebral em recém-nascidos.
Não está provado que o Zika causa a microcefalia, mas há fortes evidências ligando as infecções do vírus com casos de microcefalia no Brasil, levando a Organização Mundial de Saúde (OMS) a declarar o Zika uma emergência de saúde global em 1° de fevereiro.
Normalmente, a criação desse tipo de modelo de camundongo levaria diversos meses. Contudo, a urgência do surto de Zika exigiu uma resposta rápida, e a equipe chegou aos resultados em apenas três semanas, disse Shannan Rossi (SA:RSID3), virologista da Universidade do Texas, que liderou o estudo.
Camundongos não costumam ficar doentes por conta da infecção do Zika. A equipe testou o vírus em vários camundongos geneticamente modificados que tinham sistemas imunológicos enfraquecidos. O jovem camundongo rapidamente sucumbiu ao vírus, se tornando letárgico, perdendo peso e em geral morrendo em seis dias.
Testes nos camundongos mostraram partículas de vírus em vários importantes órgãos, incluindo grandes concentrações no baço, cérebro e testículos.
Embora Weaver tenha dito que há limites no que modelos de camundongos podem mostrar em relação a infecções humanas, eles podem pelo menos dar algumas pistas iniciais que podem ser seguidas em primatas não humanos, um modelo de animal mais custoso e melhor para avaliar a doença em humanos.
"O camundongo será principalmente usado para fazer os testes bem iniciais de vacinas e drogas, em que os mecanismos da doença não têm que ser um modelo perfeito do que acontece em humanos”, afirmou Weaver.
O Brasil confirmou mais de 900 casos de microcefalia e considera a maior parte deles relacionada a infecções de Zika nas mães. O país investiga cerca de 4.300 outros casos suspeitos.
(Reportagem de Julie Steenhuysen)