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Empresas de transporte têm déficit de 10% entre custos e receitas, diz associação

Publicado 06.08.2015, 18:04
Atualizado 06.08.2015, 18:16
© Reuters.  Empresas de transporte têm déficit de 10% entre custos e receitas, diz associação

Por Gustavo Bonato

SÃO PAULO (Reuters) - Empresas transportadoras de carga do Brasil não conseguiram reajustar os valores dos fretes na medida desejada e continuam com defasagem entre os preços praticados e os custos da atividade, em meio à desaceleração da economia do país, mostrou nesta quinta-feira uma pesquisa feita pela entidade que representa o setor.

Os fretes praticados atualmente estão 10,14 por cento abaixo dos custos efetivos das transportadoras, segundo levantamento semestral realizado pela Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística).

No fim de 2014, a defasagem era de cerca de 14 por cento.

No primeiro trimestre houve o habitual reajuste dos contratos entre transportadoras e seus clientes, mas as altas ficaram aquém do pretendido.

"Deveria ter diminuído mais (a defasagem). Historicamente diminui mais. A concentração da negociação de frete é no início do ano. Ao longo do ano os custos vão subindo", disse à Reuters o assessor técnico da NTC&Logística, Lauro Valdívia, que projeta uma nova ampliação do déficit na pesquisa do final deste ano.

A entidade não faz um levantamento específico sobre os preços de frete praticados, limitando-se a mensurar a diferença entre a receita das empresas e uma tabela de custos.

A desaceleração econômica do país tem prejudicado a demanda por fretes, impedindo grandes reajustes.

"Esse ano, a preocupação está no volume de cargas, que diminuiu, em função do encolhimento da economia", disse Valdívia, referindo-se à retração do Produto Interno Bruto (PIB), que deverá ser de 1,8 por cento este ano, segundo pesquisa Focus, do Banco Central.

Na outra ponta, as transportadoras sentem pressão de custos em 2015, inclusive do diesel --o combustível usado nos caminhões subiu de preço em fevereiro, devido a um aumento de impostos.

"Tivemos aumento de combustíveis, energia e ainda uma pressão de salários... Esperamos novo aumento de combustíveis no final do ano", disse o executivo.

A NTC realiza a pesquisa há cerca de oito anos e nesse período nunca registrou um período de margens positivas.

"Para uma empresa de transporte quebrar demora vários anos... Mas o que preocupa mais é a perspectiva futura", disse Valdívia.

A pesquisa da NTC apontou que 56 por cento dos empresários do setor de transportes acreditam que a situação dos negócios vai piorar. Cerca de 80 por cento dos entrevistados disseram não receber o pagamento dos fretes em dia.

AGRONEGÓCIO

O setor de transportes aposta na movimentação de cargas do agronegócio para evitar prejuízos maiores, em um momento de retração no comércio e na indústria.

A safra 2014/15 bateu recorde de mais de 200 milhões de toneladas de grãos e há perspectiva de aumento de plantio na nova temporada.

"O único segmento que mostra PIB positivo é o agrícola", destacou o assessor da NTC.

Ainda assim, a tendência é de queda nos preços do frete agrícola, uma vez que o transporte de grãos e carnes está atraindo caminhoneiros e empresas que atuavam com outras cargas e regiões.

Além disso, os investimentos em silos nos últimos anos têm reduzido a concentração dos fretes no momento da colheita, evitando picos de demanda, que costuma impulsionar os ganhos dos caminhoneiros com preços mais altos.

"Hoje não produz e manda tudo para o porto. Consegue-se mandar de forma mais equilibrada", lembrou Valdívia.

Na avaliação da NTC, outro fator de baixa para os fretes é a grande oferta de caminhões, após vários anos de crédito facilitado que facilitaram a aquisição de veículos.

"A tendência é de queda no frete. Um dos motivos da paralisação dos caminhoneiros autônomos (no início do ano) foi justamente isso", disse Valdívia.

O protesto de caminhoneiros contra o alto custo e os baixos valores recebidos pelo frete prejudicou o transporte de combustível e insumos por mais de uma semana no fim de fevereiro em diversas regiões do país, levando à paralisação das linhas de produção de fábricas de automóveis e alimentos e impactando exportações.

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