Por Gustavo Bonato
SÃO PAULO (Reuters) - A escala de navios previstos para carregar grãos nos portos brasileiros nas próximas semanas está mais de 70 por cento superior à da mesma época do ano passado, indicando uma forte demanda pelos produtos brasileiros, que ganharam competitividade com a desvalorização do real.
Dados da agência marítima Williams analisados pela Reuters mostram que há atualmente 80 navios previstos para carregar soja nos portos brasileiros, totalizando 4,78 milhões de toneladas. Para o milho, a escala mostra 82 navios, somando 4,53 milhões de toneladas.
Nesta mesma época no ano passado, a escala para embarques de soja somava 3,2 milhões de toneladas em 57 navios, e a de milho 2,16 milhões em 40 navios.
Somando-se as previsões de volume para os dois grãos, a escala atual está 73 por cento maior que a de meados de agosto passado. O Brasil é o maior exportador global de soja e o segundo em milho.
"Devido à forte depreciação do real, o preço da soja brasileira se torna atrativo para importadores", destacou o analista Luciano Marques, da Gama Corretora, de Santos (SP).
Os preços da soja no porto de Paranaguá, por exemplo, estão no maior valor nominal em cerca de três anos, a 79,53 reais por saca, segundo o indicador Esalq/BM&FBovespa, que afere os negócios realizados nos armazéns e no corredor de exportação.
Os preços da oleaginosa no Brasil têm subido, apesar de um recuo nas cotações na bolsa de Chicago, impulsionados por uma valorização do dólar frente o real de cerca de 30 por cento este ano.
Os prêmios oferecidos pela oleaginosa nos portos também ajudam a compor o quadro de preços elevados e demonstram grande interesse pelo grão brasileiro, mesmo após o pico do escoamento da safra nacional de soja e às vésperas do início da colheita norte-americana.
O prêmio para a soja a ser entregue em setembro no porto de Santos chega atualmente a 1,27 dólar por bushel, acumulando alta de 44 por cento desde o início de julho.
Habitualmente, nesta altura do ano, os embarques de soja começam a desacelerar, dando lugar ao milho colhido na safra de inverno. Contudo, os dados apontam para uma competição acirrada por espaço nos portos.
"A expectativa é de que o câmbio mantenha intensas as exportações brasileiras", destacou o Cepea em análise semanal do mercado de milho.
Com safras recordes e boa demanda externa, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) elevou na semana passada sua previsão de exportações de soja e milho do Brasil em 2014/15 para volumes recordes, agora projetados em 49,1 milhões de toneladas e 26,4 milhões de toneladas, respectivamente.
No último levantamento divulgado, a Conab havia apontado exportações de 21 milhões de toneladas de milho em 14/15 e 46,9 milhões de toneladas de soja.
De janeiro a julho deste ano, o Brasil exportou 40,7 milhões de toneladas de soja, alta de 7,5 por cento ante o mesmo período do ano passado, segundo dados do Ministério da Agricultura.
No mesmo período, as exportações de milho somaram 6,6 milhões de toneladas, aumento de 11 por cento na mesma comparação.