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Estudo indica que florestas são chave para a luta climática, junto com redução de combustíveis fósseis

Publicado 13.11.2023, 16:37
© Reuters. Área desmatada da floresta amazônica, no município de Uruará (PA)
14/07/2021
REUTERS/Bruno Kelly

Por Jake Spring

SÃO PAULO (Reuters) - Restaurar as florestas pode retirar 22 vezes a quantidade de carbono que o mundo emite em um ano, segundo um estudo científico publicado nesta segunda-feira, defendendo que as árvores são uma ferramenta chave para enfrentar a crise climática, junto com a diminuição de combustíveis fósseis.

O estudo abrange a restauração de florestas onde elas naturalmente existiriam se não fosse pelos humanos, seja permitindo o crescimento em terras degradadas ou reflorestando áreas desmatadas, mas exclui regiões vitais para a agricultura ou que já foram transformadas em cidades.

Atingir o potencial completo de restauração do mundo retiraria cerca de 226 gigatoneladas de excesso de carbono da atmosfera -- ou aproximadamente um terço da quantidade adicionada à atmosfera desde a revolução industrial, segundo a pesquisa.

“Não pode haver uma escolha entre natureza e descarbonização. Temos que tomar medidas para alcançar ambas simultaneamente”, disse o ecologista Thomas Crowther, do Instituto Federal de Tecnologia da Suíça, em Zurique.

O estudo, publicado na revista Nature por Crowther e mais de 200 outros pesquisadores, oferece uma grande atualização de um artigo de 2019 que gerou um feroz debate na comunidade científica.

As novas conclusões mostram que, embora as florestas possam ajudar a combater as mudanças climáticas, é contraprodutivo usá-las para compensar futuras emissões de gases do efeito estufa, disse Crowther. Qualquer emissão adicional exacerbará as mudanças climáticas e os climas extremos, danificando florestas e prejudicando a sua habilidade de absorver carbono. Isso anularia os benefícios de uma compensação, afirmou.

A ideia de obter uma compensação simplesmente plantando árvores “é agora categoricamente contra o que a ciência diz”, afirmou.

Crowther disse que planeja comparecer à COP28, a cúpula climática da ONU marcada para Dubai, para enviar essa mensagem aos responsáveis pelas políticas climáticas.

“Este tem que ser o artigo que mata o 'greenwashing'”, disse Crowther à Reuters.

CONTROVÉRSIA DAS ÁRVORES

A pesquisa chega depois de um estudo de 2019, do qual Crowther também foi co-autor, indicando que 205 gigatoneladas podem ser retiradas da atmosfera pela restauração florestal. O CEO da Salesforce, Marc Benioff, leu o estudo e se inspirou a trabalhar com o Fórum Econômico Mundial para desenvolver sua iniciativa de plantar um trilhão de árvores.

Mas o estudo e a operação de um trilhão de árvores -- rapidamente endossada pelo então presidente dos EUA, Donald Trump -- deu início a uma controvérsia entre pesquisadores e ambientalistas.

Muitos pesquisadores -- assim como a ativista sueca Greta Thunberg -- disseram que as árvores estavam sendo apresentadas como uma panaceia simplista demais para a crise climática e que poderia ser uma distração às tentativas de reduzir o uso de combustíveis fósseis, principal culpado pelas mudanças climáticas.

Crowther disse que a resposta simplificou drasticamente a mensagem do estudo.

Mais de 40 cientistas escreveram na revista Science que o estudo de 2019 pode ter inflado o potencial de sequestro do carbono da restauração florestal em quatro a cinco vezes, ao considerar a plantação de árvores em ecossistemas não-florestais, entre outros descuidos.

Joseph Veldman, ecologista da Universidade Texas A&M e principal autor daquela crítica, disse que o novo estudo ainda exagera quanto carbono pode ser retirado da atmosfera, talvez até pela metade.

Ele disse que a quantidade de 226 gigatoneladas inclui carbono que pode ser removido em locais que são “inapropriados” para o plantio de árvores, como altitudes altas, e dependem excessivamente de ganhos florestais em savanas, entre outras preocupações.

“Esse seria o limite máximo, máximo do que pode um dia ser imaginável”, disse Veldman. “Você nunca chegará lá. É imprudente e não é viável.”

Crowther disse que, embora os estudos atual e anterior mostrem onde árvores podem ser plantadas, não significa que elas necessariamente devessem ser plantadas naqueles locais.

Os autores dos estudos especificaram que a restauração precisa ser feita de uma certa maneira para ser efetiva.

Defendem que as florestas precisam ser diversas, em vez da plantação em massa de uma única espécie, e que a restauração precisa servir às necessidades da comunidade local.

Cristina Banks-Leite, uma ecologista tropical, discute o estudo de 2019 de Crowther e outro artigo que o critica na primeira semana do seu curso de mestrado no Imperial College de Londres para ilustrar o debate em torno das florestas na comunidade científica.

© Reuters. Área desmatada da floresta amazônica, no município de Uruará (PA)
14/07/2021
REUTERS/Bruno Kelly

Fazer medições tão complexas para o mundo inteiro sempre terá algumas falhas, mas também melhorará com os avanços tecnológicos, disse ela.

O estudo também conclui que proteger florestas existentes é mais benéfico que tentar recuperá-las. De todo o potencial de sequestro de carbono, apenas 39% viria do reflorestamento de áreas desmatadas. A maioria dos ganhos de carbono, estimados em 61%, viria da simples proteção de florestas que já estão em pé e permitindo a recuperação de áreas degradadas.

“A mensagem principal -- de que as florestas que temos precisam ser protegidas -- é absolutamente fundamental e correta”, disse a ecologista Nicola Stevens, da Universidade de Oxford, que foi co-autora da crítica ao estudo anterior de Crowther.

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