Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - A exportação de soja do Brasil no acumulado do mês até a terceira semana de março ganhou ritmo nos últimos cinco dias úteis, elevando a média diária exportada para 479,2 mil toneladas, de acordo com dados divulgados nesta segunda-feira pelo governo, em momento em que o mercado global foca suas atenções em eventuais problemas logísticos que possam afetar o escoamento de uma safra recorde.
Até a segunda semana de março, a exportação do Brasil, maior exportador e produtor global de soja, havia registrado média diária de 429,3 mil toneladas, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex).
No acumulado de março, os embarques da oleaginosa brasileira somaram 7,2 milhões de toneladas, já acima das 5 milhões de toneladas de fevereiro completo --quando chuvas atrasaram o escoamento ainda no início da colheita.
A média diária dos embarques em março, até o momento, indica que a exportação de soja do Brasil deverá superar o total registrado no mesmo mês do ano passado, quando o país embarcou cerca de 8,5 milhões de toneladas.
Em março, tradicionalmente os embarques de soja do Brasil ganham maior ritmo, mas a expectativa cresceu após os atrasos em fevereiro e também por conta das preocupações em torno do coronavírus, que até o momento não se traduziram em menor demanda pelo produto brasileiro, ainda que existam preocupações com interrupções no escoamento, fruto de medidas para conter a doença.
"O setor de soja é um ganhador, sem dúvida, continua fluindo igual, o produtor está com preços melhores ainda (por influência do câmbio), muita comercialização, muita demanda... Não sei se tem um ganhador nesta situação de coronavírus, mas uma das indústria menos afetadas é a de grãos", afirmou à Reuters o presidente da negociante de grãos AgriBrasil, Frederico Humberg.
Ele disse ainda que o setor está monitorando bem os riscos logísticos, mas não acredita que problemas significativos serão registrados para o escoamento da safra.
Nesta segunda-feira, foi cancelada uma assembleia de estivadores no porto de Santos, marcada para avaliar uma greve por melhores condições de trabalho diante das preocupações com o coronavírus. Na China, o mercado futuro de farelo de soja atingiu limite diário, pela oferta apertada e preocupação com o escoamento da safra sul-americana.
No que tange a preocupações logísticas, o setor de soja ainda enfrenta questões como um decreto municipal em Rondonópolis, importante polo agroindustrial e logístico de Mato Grosso, que determinou o fechamento de todos os serviços não essenciais e ordenou a suspensão de operações nas indústrias locais, em resposta à crise de coronavírus.
Para o diretor da consultoria Arc Mercosul, Matheus Pereira, enquanto a China (maior importadora) se mostra ativa nas compras de soja e retoma operações industriais já com o surto da doença mais controlado, a preocupação se torna a logística do Brasil.
"Assim como os chineses tiveram problemas, a gente deve vir a ter isso nas próximas semanas, devemos ver escassez de recursos humanos temporariamente, o que pode atrasar as exportações brasileiras, durante o período de vigência do coronavírus", afirmou ele.
Já o analista Luiz Fernando Roque, da consultoria Safras & Mercado, avalia o risco de problemas logísticos é relativamente baixo no momento, mas não é possível descartar tais temores.
Ele afirmou que, se houver redução da mão de obra nos portos, por exemplo, isso levará a atrasos nos embarques inevitavelmente.
"Acho que isso preocupa a China, diria que dificilmente vamos ver cancelamentos, mas é bem provável que aconteçam atrasos de embarques... se reduzir a mão de obra, possivelmente atrasos vão ocorrer", afirmou ele.
Ele lembrou que fatores associados ao coronavírus também nublam uma safra do Brasil que, apesar de prevista em recorde acima de 120 milhões de toneladas, tem visto preços atipicamente elevados para um período de colheita, próximos a 100 reais por saca nos portos, um valor raramente visto na história.
"O preço pode subir mais? Hoje tudo pode acontecer, o dólar pode continuar subindo, mas mesmo assim diria que o preço é excelente...", afirmou ele, ponderando que, se problemas graves forem registrados na logística, pode haver um pressão baixista nas cotações nos portos nacionais, uma vez que origens como os Estados Unidos ficariam mais interessantes para os compradores.
(Por Roberto Samora)