SÃO PAULO (Reuters) - Exportadores de suco de laranja do Brasil, maior "player" global nesse mercado, defenderam em missão à China neste mês mudanças para que o país possa embarcar o produto a granel aos chineses, como forma de elevar as exportações ao gigante asiático, disse nesta terça-feira a associação CitrusBR.
A reivindicação dos brasileiros não é nova e esbarra em questões técnicas e tarifárias, mas o diretor-executivo da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), Ibiapaba Netto, avalia que a missão do Brasil pode ter estabelecido uma agenda visando melhorar os negócios.
Ele disse que esteve reunido com a Associação Chinesa de Bebidas, que representa mais de 80% de toda a indústria local, e com a Câmara Chinesa de Comércio de Importação e Exportação de Alimentos, que "mostraram intenção de apoio aos pleitos brasileiros, o que pode acelerar os entendimentos".
"O governo tem feito a parte dele, que é levar o assunto para discussão com o governo chinês, e nós temos feito a nossa, construindo alianças locais", disse Netto em nota.
O principal tema em questão foi a chamada "tarifa de temperatura", um gatilho que é disparado caso o suco chegue à aduana chinesa numa temperatura mais quente do que 18 graus Celsius negativos. "A tarifa de importação literalmente dispara de 7,5% para 30%, o que é muito ruim", comentou o diretor.
Segundo ele, o produto a granel é entregue entre 8 e 10 graus Celsius negativos, no caso do suco congelado e concentrado (FCOJ), e entre zero e 2 graus positivos para o suco em sua diluição natural (NFC), o que inviabiliza investimentos em terminais locais, considerando a questão tarifária.
Atualmente, as vendas aos chineses são realizadas por navios contêineres, com o suco embarcado em tambores.
"É importante que as empresas tenham a opção de exportar a granel e essa mensagem foi levada ao governo chinês por nós e pelo governo brasileiro, o que envolve a possibilidade de investimentos", ressaltou ele, lembrando que o grosso da exportação brasileira é a granel e não em tambores.
Ele acrescentou que os chineses têm demonstrado especial interesse pelo suco não concentrado (NFC) brasileiro.
Enquanto as mudanças não ocorrem, o gigante chinês segue sendo um mercado relativamente pequeno para o produto brasileiro.
Os embarques de suco de laranja à China somaram 27.825 toneladas no acumulado de dez meses do ano safra 2018/19 (julho a abril), uma queda de 8% em relação ao mesmo período da temporada passada.
"O consumo na China está em aproximadamente 130 mil toneladas, com um consumo per capita de apenas 0,3 litro/ano”, disse Netto. "Se esse consumo aumentar para 0,9 litro/ano, o mercado viverá um novo ciclo virtuoso", exemplificou ele sobre o potencial.
Para todos os destinos, as exportações brasileiras totais de suco de laranja (FCOJ equivalente a 66º brix) apresentaram queda de 14% no acumulado da temporada 2019/19, para 806.957 toneladas, após uma safra menor. Em faturamento, os embarques somaram 1,4 bilhão de dólares, 13% menos que na temporada passada.
Para a União Europeia, principal destino do suco de laranja brasileiro, as exportações no período totalizaram 531.016 toneladas, 5% menos que nos mesmos dez meses da safra passada.
Os Estados Unidos, segundo mercado mais relevante para o suco de laranja brasileiro, importaram 173.678 toneladas nos dez meses da safra 2018/2019, volume 32% menor que o registrado na safra anterior.
(Por Roberto Samora)