SÃO PAULO (Reuters) - A produção total de milho do Brasil na temporada 2018/19 deverá somar um recorde de 99,7 milhões de toneladas, disse nesta terça-feira a consultoria INTL FCStone, elevando sua estimativa frente aos 98,2 milhões projetados no mês anterior.
Os números foram atualizados à medida que a segunda safra é colhida, indicou o analista Lucas Pereira, em evento da FCStone em São Paulo, projetando que a colheita da chamada "safrinha" já alcançou 46% da área.
A previsão de segunda safra subiu de 70,2 milhões para históricos 71,7 milhões de toneladas, segundo os números da consultoria.
As exportações de milho do Brasil em 2018/19 também foram revisadas para cima pela FCStone e estimadas em recorde de 35 milhões de toneladas, contra 33 milhões de toneladas no mês anterior e cerca de 25 milhões na safra passada, prejudicada pela estiagem.
As exportações do Brasil, que aumentaram quase 80% no primeiro semestre, para mais de 9 milhões de toneladas, aumentaram o ritmo em julho, segundo dados do governo.
Além da safra maior, os embarques do país, segundo exportador global de milho, têm sido ajudados pelo câmbio em muitos momentos e por preços mais altos do cereal, com o mercado internacional precificando uma quebra de safra nos Estados Unidos, líderes globais na produção e exportação.
Pereira ponderou que, conforme o desenvolvimento da safra dos EUA, que registrou um atraso recorde no plantio por conta de chuvas excessivas, o mercado poderá se adequar a uma nova condição de oferta nos EUA.
"Se for maior ou menor, vai movimentar os preços", acrescentou.
Para a analista Ana Luiza Lodi, também da FCStone, mesmo que o Brasil exporte 40 milhões de toneladas, ainda passaria com estoques relativamente folgados para a próxima safra, de 12 milhões de toneladas.
Essa situação, disse Ana Luiza, deverá favorecer uma expansão de plantio de soja na próxima safra, mesmo no Sul do Brasil, onde costuma haver maior concorrência por área entre o cereal e a oleaginosa, sendo este um produto de maior liquidez para vendas no país, o maior exportador global do grão.
Diante das incertezas no cenário global, especialmente com as dúvidas sobre o tamanho da safra dos EUA, a consultoria não divulgou uma estimativa para o plantio de soja em 2019/20 no Brasil. "Mas produtores estão dizendo que vão aumentar área...", completou.
Também dificulta a avaliação o impacto da peste suína africana na China sobre a demanda de soja pelo país asiático.
A analista observou que os chineses deverão importar menos que o previsto, mas manteve a estimativa de embarques de soja do Brasil ao maior mercado global em 71,5 milhões de toneladas na temporada 2018/19.
Ainda que a China esteja comprando menos, tem praticamente concentrado suas compras no Brasil, enquanto ainda não há solução para a guerra comercial com os EUA.
IMPACTO DE GEADAS
Ana Luiza afirmou que a safra de trigo do Brasil, um dos maiores importadores globais do cereal, deverá cair em 2019 na comparação com 2018, por efeito das geadas recentes que atingiram o cereal do Paraná, o principal produtor nacional do grão.
A analista, no entanto, não divulgou uma projeção. Em seu levantamento de julho, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) previu uma estabilidade na produção ante 2018, em cerca de 5,5 milhões de toneladas.
Mesmo vendo uma produção quase estável, a Conab apontou importação de 7,2 milhões de toneladas em 2019, um nível historicamente elevado.
As geadas também preocuparam produtores de cana e café, mas, preliminarmente, segundo analistas da FCStone, os problemas parecem não ter sido expressivos.
"Não vejo como algo decisivo para a safra e os preços do açúcar", disse o especialista em açúcar e etanol da FCStone João Paulo Botelho.
"Dados preliminares indicam que o café foi pouco afetado", acrescentou o analista Fernando Maximiliano, ressaltando que possíveis danos poderão ser quantificados apenas nas floradas.
(Por Roberto Samora e Gabriel Araújo)