Fortes geadas no Brasil atingem cinturão do café e prejudicam safras

Publicado 21.07.2021, 17:45
© Reuters. Trator em plantação de café em Santo Antonio do Jardim, cinturão do café, Brasil. 
06/02/2014  
REUTERS/Paulo Whitaker
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Por Nayara Figueiredo e Marcelo Teixeira

SÃO PAULO/NOVA YORK (Reuters) - Uma onda de frio incomum, com temperaturas caindo para níveis congelantes em questões de minutos, atingiu o coração do cinturão de café do Brasil, danificando lavouras e prejudicando perspectivas para as safras do próximo ano, afirmaram agricultores e representantes do setor nesta quarta-feira.

Os produtos agrícolas em todo o hemisfério ocidental têm sido impactados pelo clima excepcionalmente ruim. O Brasil é o maior produtor de café do mundo, com o clima mais propício para a produção dos grãos. Os preços do café avançaram cerca de 14% em resposta às geadas, aproximando-se de máximas de quatro anos e meio.

A repentina geada ocorreu na manhã da véspera. Produtores, corretores e analistas estavam avaliando as safras nesta quarta-feira após relatos de que a onda fria foi muito mais forte que o esperado.

"Nunca tinha visto algo assim. Sabíamos que ia fazer frio, estávamos monitorando, mas as temperaturas caíram vários graus de repente quando já era de manhã cedo", disse Mario Alvarenga, cafeicultor com duas fazendas no sul de Minas Gerais, o maior Estado produtor do Brasil.

A analista de agronegócios de café da Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg), Ana Carolina Alves Gomes, disse que as regiões mais afetadas do Estado foram o sul, Mogiana e Cerrado Mineiro --as principais áreas produtoras.

Ela afirmou que não se sabe a dimensão dos impactos e, talvez, nos próximos dias será possível uma estimativa para a cultura que já havia sido afetada por problemas climáticos anteriores.

"A estiagem do fim de 2020 e veranico de fevereiro/março já trouxeram muitos problemas para os cafeicultores, principalmente para essa safra (2021), com reflexos em 2022. Agora geada forte, frio intenso com seca devido ao inverno, o que causará certamente impacto grande para 2022", disse.

"O quanto vai impactar? Só o tempo vai dizer", acrescentou a especialista.

Ana Carolina ainda ressaltou que o mercado já tem refletido esses impactos com altas nos preços físico e futuro, preocupado com os estoques para a próxima safra, uma vez que o país vem de uma temporada com colheita menor (21) e bem abaixo do esperado por conta do clima.

"A próxima safra (22) que seria maior, já tem essas previsões e expectativas que impactarão no volume produzido."

DANOS

A Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé), maior produtora de café no país, informou por meio da assessoria de imprensa que técnicos foram a campo para levantar os efeitos deixados pelo frio intenso.

Produtores compartilharam fotos de suas safras, em que grandes áreas pretas eram visíveis em lugares onde deveriam ser vistos pontos verde escuro marcando os cafezais.

"Provavelmente terei que arrancar umas 80 mil árvores, estão queimadas até o fundo", disse Airton Gonçalves, que cultiva 100 hectares de café em Patrocínio, no Cerrado mineiro.

"Eu estava indo para a fazenda ontem e um sensor no caminhão começou a me alertar sobre gelo na estrada. Achei que o sistema tinha enlouquecido. Mas quando cheguei à fazenda, estava coberto de gelo, os telhados, o cultivo."

© Reuters. Trator em plantação de café em Santo Antonio do Jardim, cinturão do café, Brasil. 
06/02/2014  
REUTERS/Paulo Whitaker

Um corretor de café da região de Patrocínio acredita que cerca de 50% das fazendas do Cerrado Mineiro foram atingidas. Ele disse que a produção deste ano não será prejudicada, pois a maioria das áreas já foi colhida, mas a produção em 2022 é um ponto de interrogação.

"Em alguns casos, as árvores se recuperam, é preciso cortar alguns galhos. Em outros casos, é preciso retirar a árvore e replantar", disse ele.

O agricultor Gonçalves estima que sua produção em 2022 cairá de 5.500 sacas para cerca de 1.500 sacas.

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