Por Roberto Samora e José Roberto Gomes
SÃO PAULO (Reuters) - Geadas mais fortes do que o esperado atingiram áreas produtoras de trigo no oeste e sudoeste do Paraná na madrugada de domingo, causando perdas em uma safra que já sofria com problemas com seca, afirmou nesta segunda-feira um agrônomo do Departamento de Economia Rural (Deral), do governo do Estado.
O frio também foi intenso na madrugada desta segunda-feira e deve continuar na terça-feira, segundo o Simepar, órgão de meteorologia local.
A intensidade das geadas previstas para terça-feira, apontou o Simepar, deve variar de fraca a moderada em metade da área do Paraná, o principal produtor brasileiro de trigo, que tem boa parte das lavouras suscetíveis a perdas pelo fenômeno climático.
"Devemos ter alguns pontos de perdas, o quanto serão relevantes (essas perdas), é difícil dizer", declarou o agrônomo Carlos Hugo Godinho, especialista em trigo do Deral.
Segundo ele, apenas ao longo da semana será possível saber o tamanho da quebra de safra pelas geadas, que poderia elevar a necessidade de importação pelo Brasil, um grande importador do cereal.
"Com o avançar dos dias, as plantas vão dar sinais se vão morreu ou não. Isso vai determinar como foi a situação geral, até sexta-feira, devemos ter uma posição melhor", acrescentou.
Ele disse que o número de safra que o Deral deve divulgar nesta semana não trará eventuais perdas pelas geadas, mas sim mostrar alguma quebra adicional em função da seca, que continuou por duas semanas após o órgão divulgar seu último número, no mês passado.
"As perdas vão piorar, mas em função da seca. Sudoeste e oeste tinham culturas suscetíveis a geadas. Se teve alguma geada moderada, pode ter complicado a situação dessas regiões, que vinham muito bem por sinal, não tinham perdas por seca", acrescentou ele.
Em julho, o Deral revisou para baixo a projeção de safra de trigo para 3,12 milhões de toneladas, ante 3,36 milhões de toneladas em junho.
As perdas por seca estão bastante consolidadas no norte do Estado, destacou Godinho, dizendo ainda que o sul também sofreu com a falta de chuva
"O oeste estava escapando, e agora deu geada. Todas as regiões agora vão ter o seu porém", destacou.
No caso do milho segunda safra, afirmou ele, as lavouras mais adiantadas não estavam suscetíveis a perdas.
PREÇOS MAIS FIRMES
"O Paraná, que já tinha visto uma quebra de produção de 500 mil toneladas de trigo na porção norte por causa da seca, com essa geada de agora quebrou também na parte sudoeste do Estado", disse Luiz Pacheco, da T&F Agroeconômica.
"Agora deve ter quebrado entre 100 mil e 200 mil toneladas, mas ainda vão levar alguns dias para se saber ao certo", acrescentou ele.
Segundo o corretor, com a quebra pela geada o preço do trigo da safra nova pode voltar para o patamar de 1.000 reais por tonelada, podendo resultar em uma necessidade adicional de importação.
O preço do trigo atualmente gira em torno de 980 reais por tonelada no Paraná, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
Pacheco afirmou ainda que as geadas foram registradas também no Rio Grande do Sul, mas avaliou que por lá os problemas foram menores.
(Por Roberto Samora)