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Geopolítica dará o tom no mercado de fertilizantes no Brasil em 2022, diz Anda

Publicado 07.02.2022, 16:11
Atualizado 07.02.2022, 16:15
© Reuters. Lavoura de milho com irrigação
1/04/2018
 REUTERS/Marcelo Rodrigues Teixeira
PETR4
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Por Roberto Samora

SÃO PAULO (Reuters) - Uma crise geopolítica internacional, que envolve questões em países como Ucrânia, Rússia e Belarus, e uma menor oferta de fertilizantes por restrições em nações exportadoras preocupam o pujante mercado brasileiro de adubos, que cresceu mais de 10% em 2021, comentou o diretor-executivo da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda) nesta segunda-feira.

O impacto nos negócios do Brasil, que tem importado cerca de 85% de suas necessidades de fertilizantes, poderá ser mais ou menos acentuado dependendo dos riscos de invasão da Ucrânia pela Rússia e das eventuais reações e sanções dos Estados Unidos, acrescentou o executivo Ricardo Tortorella.

"Se esses riscos internacionais não pesarem tanto, de fato o produtor vai comprar bastante, pois vamos crescer a safra. Se os riscos... pesarem muito, tem gente que pode arrefecer", afirmou ele à Reuters, evitando fazer projeções para o mercado em 2022, em linha com a política da entidade que reúne empresas como a norte-americana Mosaic e norueguesa Yara.

Diante da forte demanda global por alimentos, produtores no Brasil têm motivação para investir em adubos que maximizam as produtividades, mas o setor não passa ileso a riscos de conflito, por exemplo. Preços em alta dos fertilizantes também são outro ponto de atenção para agricultores, embora a relação de troca por produtos agrícolas tenha sido beneficiada com a alta recente das commodities.

"A gente tem tudo para ter uma boa safra, tem tudo para ter expectativas que vamos ter uma safra recorde sim, e que esses problemas que estão aí possam ter solução. Mas não dá pra falar que não tem problema... Qualquer invasão da Rússia na Ucrânia muda o cenário", comentou.

Por ora, a maior preocupação, disse Tortorella, é em torno do cloreto de potássio, cuja oferta é quase toda importada. A matéria-prima é um dos três ingredientes básicos para adubar safras, que incluem também os fertilizantes fosfatados e nitrogenados.

A indústria de fertilizantes brasileira já vinha considerando o impacto das sanções dos Estados Unidos à Belarus, decorrentes de medidas punitivas do Ocidente contra o presidente bielorrusso Alexander Lukashenko, devido à repressão a políticos locais.

Belarus é um dos maiores produtores globais de potássio, que incluem também Canadá e Rússia.

Dos cerca de 11 milhões de toneladas de potássio que Belarus exporta por ano, o Brasil compra pouco mais de 2 milhões de toneladas, segundo a Anda, enquanto o setor brasileiro também importa mais 2 milhões de toneladas da Rússia.

Nos últimos anos, o Brasil vem batendo recordes de vendas de fertilizantes, à medida que amplia a produção agrícola. Em 2021, o país pode ter fechado com entregas de até 45 milhões de toneladas, o que seria uma alta de 11% ante 2020, segundo números da entidade de todos os nutrientes que ainda estão sendo fechados.

De janeiro a novembro de 2021 --período com os últimos dados fechados da Anda, o mercado de fertilizantes do Brasil somou 42,5 milhões de toneladas, um crescimento de mais de 14% ante o mesmo período do ano anterior, sendo que 35,6 milhões de toneladas foram de produtos importados, com alta de 19%.

O executivo avaliou que a produção de insumos para a fabricação de fertilizantes não tem avançado na mesma velocidade da demanda global, o que por si já seria motivo de preços sustentados que agora ganham novo impulso das crises geopolíticas globais, além de restrições a exportações impostas por países como a China e Rússia.

"A inflação está alta e preços de energia estão mais altos, o que obriga países a tomarem decisões contra a inflação. Uma medida que tem sido constante, a Rússia e China adotando medidas, reduz exportação para ter mais produto no ambiente interno, isso representa menos insumo para o resto do mundo", comentou.

No ambiente geopolítico, Tortorella citou ainda um importante gargalo logístico, após a Lituânia ter proibido o tráfego de potássio de Belarus por suas ferrovias neste mês.

Apesar da tensão, o executivo da Anda disse ainda acreditar na possibilidade de uma solução política ainda neste primeiro semestre, para que os fluxos comerciais de Belarus não fiquem prejudicados o ano todo.

Segundo ele, o Canadá, maior produtor de potássio, não conseguirá repor volumes de Belarus excluídos do mercado pelas sanções.

© Reuters. Lavoura de milho com irrigação
1/04/2018
 REUTERS/Marcelo Rodrigues Teixeira

"Temos expectativa de que haja uma solução que arrefeça, que atenue as consequências dos problemas."

Ele disse ainda esperar que a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que deverá viajar com o presidente Jair Bolsonaro à Rússia neste mês, tenha sucesso em auxiliar o setor privado a garantir ofertas russas neste momento de escassez, após o anúncio de que a Petrobras (SA:PETR4) acertou a venda de um projeto de fertilizantes nitrogenados para o grupo russo Acron.

 

(Por Roberto Samora)

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