Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - O governo federal indicou que não mais realizará a venda de 500 mil toneladas de milho dos estoques públicos, uma medida anunciada no início deste mês com o objetivo de esfriar os preços do cereal, então em patamares recordes.
Em nota após questionamento da Reuters sobre o assunto, o Ministério da Agricultura disse que "provavelmente" não haverá o leilão de venda de milho, "pois os preços estão se normalizando".
As cotações do cereal, importante insumo das indústrias produtoras de aves e suínos, agora estão em forte queda, sob pressão do avanço da colheita da segunda safra do cereal.
Na região de referência de Campinas (SP), a saca do cereal está agora cotada a 41,36 reais, queda de quase 25 por cento ante os picos de mais de 50 reais registrados no início de junho, segundo o indicador Esalq/BM&FBovespa.
Os valores do milho, entretanto, ainda estão em patamares historicamente elevados, pressionando as margens das indústrias de carnes. Na mesma época do ano passado, o grão na região de Campinas custava cerca de 25 reais/saca.
A assessoria de imprensa do ministério não deu mais detalhes.
Quando anunciou o leilão, em 9 de junho, o governo não havia marcado uma data para a venda.
De qualquer forma, o volume que havia sido anunciado para o leilão é pequeno perto do consumo do país, estimado em 4,7 milhões de toneladas ao mês pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Relativamente ao consumo, o governo detém pequenos estoques de milho, um volume de menos de 900 mil toneladas.
MAIOR OFERTA
Além da colheita, que já passa de 15 por cento da área plantada em Mato Grosso e Paraná, os dois maiores Estados produtores do Brasil, o milho está em queda no mercado interno com compradores mais retraídos, vendo oportunidade de reequilibrar as contas depois de consecutivos meses de alta nas cotações, disse o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), em análise recente.
A queda nos preços também está fundamentada na transferência de muitos negócios realizados na exportação para o mercado interno, com preços mais interessantes do que nas vendas externas.
A previsão de exportações do Brasil este ano foi reduzida fortemente após a alta nos preços internos.
Anteriormente, a forte alta nos preços do milho foi impulsionada por grandes exportações realizadas nos primeiros meses do ano, que limparam os estoques em um período de entressafra. Além disso, o mercado lidou com uma redução nas projeções de colheita, por conta da severa seca em abril, que atingiu os principais Estados produtores.
Em sua última previsão, do início de junho, a Conab estimou a safra total de milho 2015/16 em 76,2 milhões de toneladas, ante 79,9 milhões de toneladas em maio --a projeção atual ainda não considera perdas por geadas recentes no Paraná.
De acordo com a última estimativa da Conab, a produção de milho do país terá queda de 10 por cento ante 2014/15, quando a safra total do cereal somou um recorde de 84,67 milhões de toneladas.