Wanda Rudich.
Viena, 4 jun (EFE).- A aguçada concorrência para manter e conquistar uma fatia no mercado mundial de petróleo originou uma luta de preços que marcará a reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) amanhã, sexta-feira, em Viena.
A 167ª conferência ministerial da Opep, que estabelecerá o nível da produção conjunta de petróleo dos 12 membros do grupo no próximo semestre, é a primeira deste ano.
O resultado do encontro anterior, há seis meses, surpreendeu os mercados apesar de não ter sido diferente das reuniões anteriores desde 2012: o de manter sem alterações a cota total de produção em 30 milhões de barris diários (mbd).
A Arábia Saudita, líder natural do grupo por ser o maior exportador mundial de petróleo, se impôs então junto com seus sócios do Golfo Pérsico aos países que pediam uma redução da oferta para sustentar o valor do petróleo, já em queda por causa do excesso de provisões diante de uma demanda enfraquecida pela lenta recuperação da economia mundial.
A reação dos "petropreços" acelerou a queda até menos de US$ 50 o barril em janeiro, menos da metade dos US$ 110 dólares alcançados em junho de 2014.
Falou-se então de uma mudança radical da tradicional tática da Opep, e especialmente da Arábia Saudita, que tinha sido sustentar os preços limitando o bombeamento quando havia queda na cotação.
Já em queda livre, Riad optou em novembro por defender em primeiro lugar a participação no mercado, diante da ameaça que os tradicionais produtores de petróleo convencional veem no avanço de outros métodos mais caros de extrair e produzir, especialmente o de xisto nos Estados Unidos.
Pelas declarações dos principais responsáveis da Opep nos últimos dias, e dos analistas do setor, o mercado petroleiro não criou expectativas de que se decida uma mudança de estratégia no encontro de amanhã.
Os preços do barril recuperaram parte do terreno perdido - em maio tiveram a média mensal mais alta do ano, acima dos US$ 60 o barril - e nenhum delegado em Viena se mostrou favorável a reduzir a oferta conjunta, como fizeram em novembro Venezuela, Irã, Equador, e Argélia.
Desta vez o ministro de Petróleo da Venezuela, Asdrúbal Chávez, advertiu que a Opep não pode por si só, sem a cooperação de seus principais rivais, elevar os preços retirando parte de sua oferta do mercado.
Segundo Chávez, que lidera amanhã pela primeira vez a delegação de seu país em uma conferência da Opep, o petróleo de xisto nos EUA começou a "substituir" o de outros produtores de um tipo de petróleo semelhante (leve), entre eles de vários da Opep como Líbia, Argélia, Nigéria e Angola.
Em consequência, esses países se viram obrigados a buscar novos clientes para compensar a perda de compradores, o que originou uma "involuntária guerra de preços" no setor, disse o ministro venezuelano no VI Seminário Internacional da Opep, realizado ontem e hoje em Viena.
Neste momento há "uma superoferta de entre dois e 2,5 milhões de barris ao dia, gerada principalmente pela produção de petróleo de xisto nos EUA", disse o ministro.
Ele reconheceu que a cotação em torno de US$ 100 o barril dos últimos três anos favoreceram o aumento dos investidores no setor e, consequentemente, do crescimento da oferta mundial.
Seu colega equatoriano, Pedro Merizalde, não quis definir qual seria o valor desejável para seu país, mas destacou a importância de conseguir um mercado estável e "razoável", com preços que permitam planejamentos em longo prazo.
Já o ministro saudita, Ali bin Ibrahim Al-Naimi, se mostrou satisfeito com o resultado de sua estratégia: "A demanda está aumentando, a provisão está caindo. O mercado está se estabilizando", disse.
Como a Opep é considerada boa em fazer surpresas, alguns observadores apontaram para a possibilidade de, inclusive, nessa guerra de preços, adotar um aumento da oferta, já que superou a cota em vigor de entre 0,5 e 1 milhão de barris diários, segundo diversas estimativas.