(Texto atualizado no 12º parágrafo com detalhamento sobre atrasos)
SÃO PAULO (Reuters) - A hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, iniciou nesta quarta-feira a operação comercial de sua primeira turbina, exatos seis anos após a licitação em que teve a concessão arrematada pela Norte Energia, uma sociedade liderada pela estatal Eletrobras (SA:ELET3).
A primeira máquina a operar na usina do rio Xingu tem 611 megawatts em potência, o que representa pouco mais de 5 por cento da capacidade total da usina (11,2 mil megawatts), que será a terceira maior do mundo quando concluída, o que está previsto para 2019.
A turbina estava operando em testes desde o início de abril.
A autorização constou de despacho da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) no Diário Oficial da União.
Atualmente, o empreendimento tem como sócios as elétricas Eletrobras, Cemig (SA:CMIG4), Light (SA:LIGT3) e Neoenergia, além de Vale, Sinobras, J. Malucelli e os fundos de pensão Petros e Funcef.
Orçada em 25,8 bilhões de reais, a usina começou a ser estudada em 1975, sempre em meio a disputas com povos indígenas da região.
Em um encontro sobre o projeto, em 1989, o então engenheiro da Eletronorte, Antônio Muniz Lopes, viu uma índia esfregar um facão em seu rosto em protesto contra a usina, então chamada de Kararaô.
Anos depois, o mesmo Muniz Lopes chegaria à presidência da Eletrobras e retomaria o projeto no início do governo Lula com o nome de Belo Monte, mas não sem novas polêmicas.
O leilão da usina, em 2010, foi paralisado diversas vezes por ações judiciais, e após isso a construção da usina enfrentou também diversos entraves na Justiça e junto a ribeirinhos e povos indígenas.
Após diversas paradas, a hidrelétrica inicia a operação comercial com mais de um ano de atraso em relação ao cronograma original, que apontava para o início da geração no começo de 2015.
A Norte Energia destacou em nota que o cronograma previa primeiramente a entrada em operação de máquinas menores, com 39 megawatts cada, e que a turbina que entra em operação comercial nesta semana é bem mais potente e tem apenas um mês de atraso em relação à data estimada originalmente.
As máquinas mais atrasadas são da casa de força Pimental, que a Norte Energia entende ser complementar por ter cerca de 3 por cento da capacidade do sítio principal, onde o descumprimento do cronograma é de 20 dias.
"Um prazo recorde, principalmente se considerar as inúmeras interrupções das obras decorrentes de liminares da Justiça, invasões, ocupações e paralisações nos canteiros", disse a empresa em nota.
Agora, Belo Monte tenta negociar junto ao Ministério de Minas e Energia um perdão para o descumprimento do cronograma, o que já foi negado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) em duas oportunidades.
LAVA JATO
A mega hidrelétrica também está envolvida no maior escândalo de corrupção do Brasil, investigado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público na Operação Lava Jato, que apura pagamento de propinas e políticos e partidos por empresas estatais e construtoras.
O senador Delcídio do Amaral afirmou em sua delação premiada, homologada e divulgada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que houve propina de ao menos 30 milhões de reais na usina, com destinação de recursos a campanhas eleitorais do PT e do PMDB.
Na época, a Norte Energia negou as acusações e afirmou que "há dois anos a construção da usina... vem sendo citada em notícias levianas sem apresentar provas ou provada sequer uma evidência de irregularidades na execução da obra".
A Eletrobras contratou o escritório especializado Hogan Lovells para realizar investigações junto a um comitê independente e apurar eventuais irregularidades em um grupo de nove projetos, entre os quais a hidrelétrica do Xingu.
(Por Luciano Costa)