Por Jake Spring
BRASÍLIA (Reuters) - Cinco empresas exportadoras de grãos, entre elas Cargill e Bunge, e dezenas de agricultores receberam multas no valor total de 105,7 milhões de reais devido a atividades ligadas ao desmatamento ilegal, informou o Ibama nesta quarta-feira.
As tradings de grãos, que ainda incluem ABC Indústria e Comércio SA, JJ Samar Agronegócios Eireli e Uniggel Proteção de Plantas Ltda, foram multadas em 24,6 milhões de reais.
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que impôs as multas, disse em um comunicado que as companhias compraram quase 3 mil toneladas de grãos produzidos em áreas que, segundo as leis ambientais, estão proibidas para o cultivo.
A Cargill disse que não recebeu nenhuma notificação do Ibama sobre as compras ilegais de soja e que analisará a questão.
A Bunge informou que suas compras de grãos na área na qual foi multada estão de acordo com as melhores práticas e que consultou bancos de dados públicos sobre áreas proibidas, acrescentando que apoia o Ibama e os esforços de preservação do Brasil.
O volume de soja a que se refere as multas, contudo, é ínfimo perto do total que as tradings movimentam anualmente, na escala dos milhões de toneladas.
Representantes das outras companhias não foram encontrados de imediato para comentar.
As multas foram uma fase da "Operação Shoyo", que vem sendo realizada desde abril e por meio da qual o Ibama e procuradores federais vêm coibindo o uso de terras ilegais em Matopiba, região do Cerrado formada pelos Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
O Matopiba é uma das regiões em que o cultivo de soja mais cresce, graças a terras ainda relativamente baratas.
O coordenador-geral de Fiscalização Ambiental do Ibama, Renê Luiz de Oliveira, disse que o desmatamento ilegal no Cerrado está avançando muito mais rápido em Matopiba do que em outras regiões do bioma.
"Isso exige que se fortaleçam as estratégias de controle para deter todo elo ilegal da cadeia de suprimentos", disse ele no comunicado do Ibama.
A operação se concentrou em áreas que já haviam sido desmatadas ilegalmente e que foram interditadas pelo Ibama para permitir que a vegetação nativa volte a crescer.
Dezenas de agricultores foram multados por produzirem grãos nestas áreas, por impedirem o retorno da vegetação nativa ou por tentarem comercializar produtos oriundos das áreas proibidas.