SÃO PAULO (Reuters) - Um impasse sobre o recebimento da nova geração de soja transgênica desenvolvida pela Monsanto coloca em lados opostos a multinacional de biotecnologia e grandes tradings que operam no Brasil, ameaçando o recebimento de cerca de um quarto do volume a ser colhido no país na próxima safra, disse nesta quarta-feira a Abiove, associação que representa processadoras e exportadoras de grãos.
A safra 2014/15 deverá ter cerca de 25 por cento de grãos com a tecnologia Intacta RR2 Pro, que combina dois tipos de genes, oferecendo à soja resistência ao herbicida glifosato e proteção contra lagartas, segundo estimativa da Abiove.
Na safra passada (13/14), que já foi colhida e está sendo comercializada atualmente, a presença da então inédita Intacta não chegou a 3 ou 4 por cento, disse a associação.
A discussão, que já dura seis meses, é sobre o papel das empresas compradoras na verificação do pagamento dos royalties que os agricultores precisam pagar à Monsanto pelo uso da tecnologia.
"Nós entraremos como fiscais nessa história, a pedido da Monsanto, com um contrato de prestação de serviço... Não podemos receber o encargo de ter a obrigação legal da cobrança desse royalty ou da aferição desse royalty nessa soja", disse Carlo Lovatelli, presidente da Abiove, entidade que reúne gigantes do setor como ADM, Bunge, Cargill e Louis Dreyfus.
Procurada, a Monsanto não comentou imediatamente o assunto.
Lovatelli disse que o temor das indústrias é que haja questionamentos sobre os pagamentos de uma carga já embarcada, por exemplo, com arresto de navios em sua chegada aos portos de destino.
"É como se estivesse vendendo um carro lá fora, inteirinho, e o fabricante do pneu viesse reclamar alguma coisa sobre a borracha", comparou o executivo.
Caso o impasse permaneça, a Abiove diz que indústrias e exportadores não irão comprar soja Intacta na próxima safra.
"Não vamos assinar isso de jeito nenhum", disse Lovatelli.
A safra 2014/15 de soja do Brasil, que será plantada a partir de setembro e colhida a partir de janeiro, é estimada em 91 milhões de toneladas, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
A Abiove diz que a resolução do modelo de contratos é urgente porque os produtores rurais estão finalizando atualmente a compra das sementes que serão utilizadas.
"O produtor de soja quer ter certeza, neste momento de compra das sementes, que não vai ter problema na entrega dessa soja daqui a seis meses", disse Lovatelli.
(Por Gustavo Bonato)