Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - A indústria de café robusta do Brasil avalia que o atual mercado no país está com preços equivalentes aos do produto do Vietnã posto no porto brasileiro, o que poderia limitar importações inéditas do grão verde não fosse a severa escassez doméstica, avaliou representante de uma associação de empresas do setor.
Segundo o diretor de Relações Institucionais da Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics), Aguinaldo Lima, os preços atuais do café robusta no Brasil --semelhantes aos do Vietnã (maior produtor global de robusta), considerando frete marítimo e uma eventual redução da tarifa de importação para 2 por cento-- indicam que não seria vantagem importar, mas ainda assim a importação é necessária considerando que não há produto para atender a indústria nacional.
O preço do robusta no Espírito Santo (tipo 6, peneira 13 acima) está em torno de 459 reais por saca, abaixo do recorde de mais de 550 reais registrado em meados de novembro do ano passado, sendo pressionado desde então por notícias de que o Brasil tomaria medidas para importar o grão utilizado em grande parte na produção do café solúvel.
"Hoje os preços estão compatíveis, considerando custos e preços, a diferença é pouco favorável ao café do Vietnã, menos de um dólar. Não compensaria comprar no Vietnã, o problema é que não conseguimos comprar volumes no mercado interno", explicou Lima à Reuters.
De acordo com o diretor, os preços de mais de 500 reais a saca pedidos anteriormente pelos produtores de robusta do Brasil --que dizem ter estoques suficientes para evitar importações-- inviabilizam negócios do setor.
O Brasil --maior exportador global de café solúvel, assim como de grãos verdes-- já está perdendo negócios de solúvel para concorrentes na Ásia, incluindo do Vietnã, por não ter conseguido obter matéria-prima no mercado a preços adequados, disse o executivo.
Prova disso foi a exportação brasileira de janeiro de solúvel --feito majoritariamente com robusta--, que caiu 35 por cento ante o mesmo mês do ano passado.
Repetindo um argumento do ministro da Agricultura, Blairo Maggi, Lima disse que, quando a indústria de solúvel perde contratos por não ter produto, quem perde não é somente o empresário, mas também o cafeicultor, que tem se posicionado contra a importação de robusta.
"Ficando contra a importação, isso é contra o próprio negócio dele (cafeicultor)", comentou.
A entrevista do diretor da Abics foi dada após o Ministério da Agricultura ter anunciado na segunda-feira encaminhamento de pedido à Câmara de Comércio Exterior (Camex) para flexibilizar importação de café robusta pelo Brasil. A recomendação do ministério inclui redução tarifária de 10 por cento para 2 por cento para uma cota de 1 milhão de sacas.
A reunião de ministros da Camex está prevista para o dia 22 de fevereiro (quarta-feira), enquanto a reunião técnica do órgão deve ocorrer na quarta-feira desta semana, segundo o ministério.
Tanto Lima quanto o ministério afirmaram à Reuters que não deve haver barreiras fitossanitárias para a importação do produto do Vietnã, caso a flexibilização seja aprovada pela Camex.
Atualmente, a Análise de Risco de Pragas (ARP) é válida para o café robusta do Vietnã e da Indonésia, informou o ministério.