Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta terça-feira que pretender organizar um encontro com chefes de governo de países dito democratas para definir uma atuação coordenada para fazer frente ao crescimento da extrema-direita.
"Os setores de esquerda, progressista, os setores democratas tem que se organizar. Eu falei com Pedro Sánchez, falei com Macron, estou tentando ver se a gente consegue fazer uma reunião com os chamadas presidentes democratas por ocasião da Assembleia Geral das Nações Unidas para a gente definir uma estratégia de como vamos, a nível internacional, enfrentar o crescimento da extrema-direita e suas matizes", defendeu.
O presidente esteve com Sánchez e Macron no Brasil, em duas visitas de Estado feitas pelos europeus. A iniciativa ainda não foi confirmada, mas a intenção é que ocorra às margens da Assembleia Geral, em Nova York, em setembro.
Lula lembrou que em seus mandatos anteriores a América do Sul era 80% de presidentes progressistas, de esquerda e, na sua opinião, retrocedeu com o crescimento "da extrema-direita, da xenofobia, do racismo e da perseguição às minorias", e afirmou que o Brasil é "um pólo de resistência a isso tudo".
O crescimento da extrema-direita, afirmou, é um problema que afetou inclusive os Estados Unidos, antes visto como um "espelho fantástico" da democracia. "O que aconteceu nos Estados Unidos foi uma afronta à democracia", disse.
Em meio às atuais diferenças entre os países da América do Sul, Lula insistiu que estão tentando organizar mais um encontro do chamado "Consenso de Brasília" -- reunião de países que substitui a Unasul - durante a sua viagem ao Chile, em Maio. O encontro não está confirmado.
"Precisamos agir enquanto bloco. Se fizermos uma política de alianças, vamos respeitar as diferenças, mas fazer a economia crescer. Está muito difícil, mas temos que tentar", disse.
Lula comentou ainda as eleições na Venezuela e o fato de a oposição ter conseguido se reunir em torno de um candidato, o embaixador Edmundo González, citando que vai haver eleições, que devem ser acompanhadas por observadores internacionais.
"Fico torcendo para que a Venezuela volta à normalidade depois das eleições, que os Estados Unidos possam retirar as sanções", afirmou.
Ações do governo de Nicolás Maduro, como o impedimento da candidata substituta Corina Yoris, de ser registrada para o pleito, irritaram o presidente, que manifestou seu desagrado em críticas públicas à situação de Yoris, além de uma nota do Itamaraty, aprovada pessoalmente por Lula.
O governo brasileiro observa com atenção o processo eleitoral venezuelano, mas a avaliação é que o país jogou fora o chamado Acordo de Barbados, em que os EUA suspenderam sanções em troca de passos consistentes para um processo eleitoral democrático. Depois da suspensão dos direitos políticos de Maria Corina Machado, principal nome da oposição, e do impedimento de Yoris, os EUA retomaram as sanções contra a Venezuela.
As eleições venezuelanas acontecem em julho.