SÃO PAULO (Reuters) - O mundo deverá registrar um déficit de cerca de 710 mil toneladas de açúcar na safra 2018/19, iniciada neste mês, após excedente de 8,35 milhões em 2017/18, com a produção no Brasil e em outros países menor que a esperada, estimou nesta segunda-feira a Datagro.
A consultoria previa anteriormente um superávit de 3,68 milhões de toneladas para o ciclo vigente.
Caso se concretize, o déficit nesta safra seria o primeiro desde o de 3,32 milhões de toneladas observado em 2016/17, conforme dados da Datagro.
"O que motiva essa perspectiva é fundamentalmente as revisões da safra 2018/19 e as perspectivas para 2019/20 para o centro-sul do Brasil e também as estimativas para Índia, Tailândia, União Europeia, Rússia, Estados Unidos e outras geografias", afirmou o presidente da Datagro, Plinio Nastari, durante teleconferência.
A consultoria revisou levemente suas projeções de produção no centro-sul do Brasil, principal região produtora de cana do mundo, considerando agora um mix ainda mais alcooleiro. Embora tenha citado menor produção em outros países, Nastari não detalhou.
Recentemente, surgiram indicações de que a safra da Índia, que deve superar o Brasil na produção de açúcar em 2018/19, será menor que o previsto, devido a uma infestação por larvas nos canaviais, de acordo com reportagem da Reuters.
As usinas do centro-sul devem fabricar 27,29 milhões de toneladas de açúcar e 30,50 bilhões de litros de etanol, ante 27,93 milhões de toneladas e 30,10 bilhões de litros, respectivamente, em projeção de agosto, segundo a Datagro.
MAIS ETANOL
"A região centro-sul caminha para um mix de produção mais alcooleiro do que o antecipado", disse Nastari, destacando que apenas 36,2 por cento da oferta de cana irá para a fabricação do adoçante, frente 46,5 por cento na temporada anterior.
O setor sucroenergético brasileiro tem impulsionado a produção de etanol há mais de um ano, na esteira de mudanças tributárias e preços recordes da gasolina, concorrente direto do álcool hidratado. De outro lado, o mercado global em superávit na safra anterior depreciou os preços do adoçante.
Segundo a Datagro, a participação do etanol no consumo de ciclo Otto foi de 44,3 por cento entre janeiro e agosto de 2018, versus 40 por cento em todo o ano de 2017.
"O Brasil consumiu 11,50 bilhões de litros de etanol hidratado de janeiro a agosto, 41,8 por cento a mais que em igual período do ano passado", disse Nastari.
Ele disse que os estoques de álcool nas usinas estavam quase 6 bilhões de litros em meados de agosto, suficientes para quase 130 dias de consumo. Apesar de volumosas, as reservas serão importantes para a entressafra deste ano, que tende a ser maior em virtude da baixa disponibilidade de matéria-prima.
A moagem de cana no centro-sul cairá 6,4 por cento ante a temporada passada, para 558,12 milhões de toneladas.
Nastari disse que 24 por cento das usinas do centro-sul tendem a retomar as operações de colheita no primeiro trimestre de 2019, versus uma intenção de 48 por cento em igual momento deste ano, uma vez que devem aguardar um melhor desenvolvimento, e consequente rendimento, dos canaviais.
(Por José Roberto Gomes)