(Reuters) -O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta terça-feira que o Mercosul não tem interesse em acordos comerciais que condenem os países do bloco a serem "eternos exportadores de matéria-prima, minério e petróleo", e reforçou seu compromisso em concluir o acordo comercial com a União Europeia.
Em discurso a líderes do Mercosul em reunião de cúpula do bloco na cidade argentina de Puerto Iguazu, na região da Tríplice Fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai, Lula voltou a defender a adoção de uma moeda comum entre os membros do bloco para operações de compensação e disse que o Mercosul precisa trilhar o caminho para uma aliança mais democrática e participativa.
"Não temos interesse em acordos que nos condenem ao eterno papel de exportadores de matéria-primas, minérios e petróleo", disse Lula em seu discurso.
O Brasil recebeu na cúpula desta terça a presidência pro-tempore do Mercosul da Argentina, e com isso presidirá o bloco até o final deste ano.
Ao mesmo tempo que repetiu sua determinação em selar um acordo comercial entre Mercosul e UE durante a presidência brasileira do bloco, Lula reiterou que a carta adicional enviada pelo bloco europeu com exigências ambientais é "inaceitável". Ele também repetiu sua divergência com relação à abertura para compras governamentais.
"O instrumento adicional apresentado pela União Europeia em março deste ano é inaceitável. Parceiros estratégicos não negociam com base em desconfiança e ameaça de sanções. É imperativo que o Mercosul apresente uma resposta rápida e contundente. É inadmissível abrir mão do poder de compra do Estado -- um dos poucos instrumentos de política industrial que nos resta", afirmou.
Lula também defendeu que o Mercosul -- formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai -- avance no comércio com outros países sul-americanos, como Chile, Colômbia, Equador e Peru. Disse ainda que é preciso que a Bolívia torne-se membro pleno do Mercosul.
"Fortalecer o Mercosul significa contar com a participação de todos os nossos membros. Temos urgência para o acesso da Bolívia como membro pleno e trabalharei pessoalmente por sua aprovação no Congresso brasileiro", prometeu.
Lula também defendeu que o grupo avance em negociações para acordos comerciais com países de outras partes do mundo.
"Vamos revisar e avançar nos acordos em negociação com Canadá, Coreia do Sul e Cingapura. Vamos explorar novas frentes de negociação com parceiros como a China, a Indonésia, o Vietnã e com países da América Central e Caribe", afirmou.
NOVO REGIME DE ORIGEM
A cúpula do Mercosul também aprovou nesta terça-feira, após quatro anos de negociações, o novo Regime de Origem (ROM) do bloco.
Entre as mudanças trazidas pelo regime está o aumento no limite de insumos importados em um produto de origem, para que ele ainda assim possa ser considerado "nacional".
Para que um produto brasileiro seja considerado nacional, ele poderá ter no máximo 45% da matéria-prima comprada de um país de fora do Mercosul.
"Essa medida representa um avanço significativo para o fortalecimento da integração econômica na região e o aumento da competitividade das empresas brasileiras no mercado internacional", avaliou o secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Márcio Elias Rosa, em nota distribuída pela pasta.
(Por Eduardo Simões, em São Paulo; reportagem adicional de Fabrício de CastroEdição de Pedro Fonseca e Patrícia Vilas Boas)