Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - O Brasil deveria liberar a importação de café verde de forma temporária e com o estabelecimento de alguns limites tarifários, em momento em que sofre uma escassez do produto após a grande quebra de safra do grão robusta (conilon), disse nesta quarta-feira o ministro da Agricultura, Blairo Maggi.
"Foi pedido ao Ministério da Agricultura que desse opinião... pelos dados que temos, os dados da Conab, dos estoques reguladores, estoques particulares nos indicam que deveríamos sim fazer uma abertura, ainda que temporária, subindo o imposto de importação... para proteger o produtor brasileiro", declarou o ministro a jornalistas, após evento em Brasília.
O ministro argumentou que é preciso um olhar abrangente sobre o assunto, que sofre forte oposição de cafeicultores, preocupados com a possibilidade de perder mercado localmente para o produto importado.
Mas, de acordo com Blairo, a atual escassez do produto no Brasil está prejudicando a indústria nacional, especialmente a de café solúvel, que usa o grão robusta. "Se não temos produto para ela processar, certamente vamos perder mercado internacional".
Segundo ele, nota técnica do Ministério indica a possibilidade de importação de 200 mil sacas de café ao mês até maio, quando começa a colheita da nova safra brasileira, ao mesmo tempo em que recomendaria aumento do imposto de importação de 9 para 35 por cento --isso seria um limite para importação de café arábica, principal variedade cultivada no país, que não sofreu diretamente o problema da quebra de safra.
O ministro lembrou ainda que apenas o café do Paraguai e do Peru tem autorização do departamento fitossanitário para ingressar no país. O café do Vietnã, maior produtor de robusta, não tem tal aval, disse Blairo.
"Vietnã e Etiópia ainda não podem vender, porque precisa passar por análise técnica e de risco", afirmou ele, ressaltando que o país necessita de tais análises para evitar importar pragas que atingem os cultivos e que não existem no Brasil.
Na questão do imposto de importação, teria que haver uma decisão da Câmara de Comércio Exterior (Camex).
Assessoria de imprensa do Ministério da Agricultura disse, em nota enviada à Reuters, que as importações não tem possibilidade de acontecer em janeiro, já que vai ser formado um grupo de trabalho coordenado pela Conab para fazer um levantamento dos estoques físicos do café conilon.
"Não vai acontecer agora em janeiro esta importação, porque eles vão avaliar e aprofundar o assunto", disse a assessoria, acrescentando que o levantamento dos estoques será feito por cooperativas, armazéns privados e produtores.
PRODUTORES CONTRA
Mais cedo nesta quarta-feira, o Conselho Nacional do Café (CNC), que representa os produtores do Brasil, afirmou que ainda não há uma decisão do governo brasileiro de liberar importações de café verde.
A afirmação do CNC foi feita após o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Neri Geller, dizer ao jornal Valor Econômico que "já está bem encaminhado para liberarmos as importações de café pontualmente e somente uma quantidade pré-definida".
Geller citou ao jornal o café do Vietnã, que, segundo o ministro, não está autorizado até o momento.
Na véspera, o CNC e a Comissão Nacional do Café da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) entregaram ao secretário ofício em que apresentam posicionamento contrário à importação de café em grão cru.
O documento afirma que há café conilon em quantidade suficiente no Brasil para atender a demanda da indústria nacional.
"Nas duas últimas safras, as colheitas de conilon (robusta) foram aquém do potencial, mas apostamos na recuperação do parque produtivo no curto prazo, que será feita às custas de pesados investimentos dos cafeicultores...", afirmou.
(Reportagem adicional de Stephen Eisenhammer, em Brasília)