SÃO PAULO (Reuters) - A mistura obrigatória de 11 por cento de biodiesel no diesel consumido no Brasil deve ficar para o segundo semestre deste ano, em mais um atraso ante as previsões iniciais, disse nesta quinta-feira o economista Daniel Furlan Amaral, da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove).
Ele explicou que foram realizados 45 testes pela indústria automotiva com o chamado B15, ou seja, o diesel com 15 por cento de biodiesel. Do total, três análises apresentaram "inconformidades não conclusivas", comprometendo o cronograma para misturas intermediárias, como o B11.
A recomendação da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) contra o B15 foi feita em fevereiro, o que resultou em atraso para a entrada do B11, prevista para junho.
O Leilão de Biodiesel realizado nesta quinta-feira pela reguladora ANP, visando o fornecimento a partir de junho, não considerou o diesel com 11 por cento de biodiesel, um combustível renovável feito principalmente com óleo de soja no Brasil.
"Não vai ser para junho, porque o leilão já está acontecendo hoje. Vai ficar para o segundo semestre, porque foram apenas três testes, e três testes com inconformidades não conclusivas", comentou Amaral nos bastidores de evento sobre o setor de combustíveis em São Paulo, sem apontar um data.
Ainda assim, ele aposta que há espaço para o B11 ainda neste ano, mesmo após esses percalços. "Na nossa visão, dá para seguir com o B11", disse ele, sem dar indicações de quando seria.
O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) aprovou em outubro do ano passado um cronograma que previa entrada em vigor do B11 em junho deste ano, elevando-se a mistura gradativamente até o B15 em 2023. Anteriormente, a expectativa já era de que o B11 valesse já em março de 2019.
As principais associações representativas do setor de biodiesel no Brasil --Abiove, Aprobio e Ubrabio-- já divulgaram documento em que dizem que um eventual atraso na implantação do B11 afetaria todo o cronograma de misturas e poderia até atrapalhar o RenovaBio, a nova política nacional de biocombustíveis.
Cálculos da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) apresentados por Amaral durante o evento em São Paulo mostram que o Brasil tende a importar cerca de 77 bilhões de litros de diesel nos próximos nove anos, um volume "que representaria custo de 36 bilhões de dólares, isso a preços atuais".
Nesse sentido, ele defende o maior uso de biodiesel na matriz energética nacional, pois reduziria a necessidade de importação de diesel e agregaria valor no Brasil, gerando emprego e renda.
(Por José Roberto Gomes)