Por Leonardo Goy e Silvio Cascione
BRASÍLIA (Reuters) - Veículos à gasolina movidos com combustível com mistura maior de etanol, de 27,5 por cento, passaram em testes de desempenho encomendados pelo governo, que aguarda agora a conclusão de novos estudos sobre emissões de gases para tomar uma decisão sobre a mudança no limite superior do percentual utilizado do biocombustível no Brasil, disse uma fonte governamental nesta terça-feira.
O atual limite superior da mistura, que está em vigor, é de 25 por cento de etanol anidro na gasolina.
O aumento do limite máximo da mistura para até 27,5 por cento já foi sancionado pela presidente Dilma Rousseff, mas a efetiva decisão de aumentar a taxa de etanol na gasolina depende, segundo a lei, da comprovação da viabilidade técnica.
Não houve problemas para o funcionamento dos veículos nos testes conduzidos pelo Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes), segundo essa fonte do governo, que preferiu não ser identificada.
O único problema constatado até agora, acrescentou a fonte, foi um aumento da emissão de gases à base de nitrogênio e oxigênio (NOx), que poderiam ter efeitos nocivos à saúde em quantidades muito elevadas.
A indústria automobilística, representada pela Anfavea, é contrária a uma mistura maior, argumentando anteriormente que boa parte da frota ainda usa apenas gasolina no Brasil, e não estaria tecnicamente preparada.
A eventual mudança, contudo, é vista pela indústria sucroalcooleira como forma de aliviar a crise vivida pelo setor. O etanol anidro é um dos produtos com melhor remuneração das usinas.
Ao governo também interessa a nova mistura pelo potencial de reduzir as importações de combustíveis fósseis pela Petrobras.
EMISSÕES
A fonte do governo afirmou que o aumento verificado nessas emissões foi pequeno, ainda dentro dos limites, mas, mesmo assim, gerou preocupações, principalmente da área ambiental do governo.
"Estão sendo feitos levantamentos sobre essas emissões em áreas metropolitanas, onde já há níveis de saturação", disse a fonte.
No caso de outros gases, como o CO2 e o monóxido de carbono, o aumento da mistura causou redução de emissões, ainda segundo a fonte.
Somente após a conclusão dessa análise mais detida sobre a emissão de NOx é que o governo tomará uma decisão.
Apesar de não haver um prazo específico para isso, a fonte afirma que o processo não deverá demorar, e que a decisão final sobre o aumento da mistura será tomada ainda este ano.
Uma fonte do setor de etanol ouvida pela Reuters disse ter ciência de que outros estudos acabariam sendo feitos, mas acha que já há elementos suficientes para aumentar a mistura.
"E queremos que esse aumento seja a partir de janeiro, e não a partir de maio. Acho que nós já temos certa segurança para solicitar isso", disse a fonte do setor, que falou sob a condição de anonimato.
"Hoje nós já teríamos condições de dar segurança ao governo, seja com a produção própria ou com alguma eventual importação, de que nós conseguiríamos atender à demanda prevista", disse.
Segundo essa fonte do setor privado, na próxima semana deve haver uma reunião com o governo para tratar do assunto.
Entretanto, uma segunda fonte do governo, que acompanha o assunto, ressaltou que a oferta de etanol está relativamente baixa, após uma quebra de safra no centro-sul, e que isso não permitiria uma mistura maior já nos próximos meses.
"Não acredito em aumento da mistura este ano porque a safra já está dada e talvez não haja oferta suficiente", afirmou.
(Com reportagem adicional de Alonso Soto)