SÃO PAULO (Reuters) - O volume de cana-de-açúcar processado pelas unidades produtoras da região centro-sul do Brasil atingiu 49,44 milhões de toneladas na segunda metade de julho, alta de 37,35 por cento frente à mesma quinzena de 2014, com o tempo mais seco favorecendo a moagem da matéria-prima do açúcar e do etanol, afirmou nesta segunda-feira a Unica, entidade que representa o setor.
A força da moagem de cana na última quinzena de julho deixou o total moído no acumulado da safra 2015/16 praticamente em linha com o verificado na mesma época da temporada 2014/15, após um atraso nos trabalhos por conta de chuvas.
Até 1º de agosto, o volume processado de cana na safra 2015/16 alcançou 279,37 milhões de toneladas, com as usinas destinando quase 60 por cento do total para a produção de etanol, cujas vendas estão aquecidas no mercado interno.
"Ao contrário do cenário observado no início de julho, o clima mais seco favoreceu a colheita na última metade do mês e permitiu uma sensível recuperação do ritmo de moagem, que estava atrasado em boa parte das usinas", disse o diretor técnico da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Antonio de Padua Rodrigues, em nota.
A produção de açúcar somou 2,79 milhões de toneladas na última metade do mês, alta de 24,7 por cento ante o mesmo período da safra passada. Já o volume produzido de etanol alcançou 2,19 bilhões de litros (891,4 milhões de litros de etanol anidro e 1,3 bilhão de litros de etanol hidratado), aumento de 37,1 por cento na mesma comparação.
Ainda que a moagem tenha se recuperado na última quinzena de julho, a produção de açúcar tem uma queda de mais de 10 por cento no acumulado da safra, para 13,5 milhões de toneladas, com usinas privilegiando a produção de etanol.
"Apesar da moagem da atual safra estar emparelhada com aquela do último ano, a produção de açúcar segue defasada em mais de 1,5 milhão de toneladas. Atualmente, o comportamento da produção tem sido impulsionado pela necessidade de gerar caixa por boa parte das unidades, com prioridade para a fabricação de etanol hidratado", disse Padua.
A fabricação do biocombustível desde o início da safra 2015/2016 até 1º de agosto totalizou 12,17 bilhões de litros, dos quais 4,28 bilhões de litros referem-se ao anidro e 7,89 bilhões de litros ao etanol hidratado.
A produção total de etanol na safra cresceu 2,6 por cento ante 14/15, um aumento limitado pela queda na produção de etanol anidro (misturado à gasolina), com recuo de 16,3 por cento. Já a produção de hidratado (usado nos veículos flex) cresceu 16,9 por cento na comparação anual, para acompanhar o crescimento do consumo.
A Unica notou ainda que, apesar da recuperação da moagem nos últimos dias de julho, a proporção de matéria-prima direcionada à fabricação de açúcar permanece abaixo do índice registrado na safra passada --43,93 por cento (na última quinzena de julho), contra 46,23 por cento verificados no mesmo período de 2014.
VENDAS DE ETANOL
As vendas de etanol hidratado ao mercado doméstico apresentaram, mais uma vez, "crescimento surpreendente". Em julho, as unidades produtoras comercializaram 1,605 bilhão de litros: aumento de quase 50 por cento sobre o mesmo mês do ano passado e praticamente idêntico ao recorde histórico registrado para o período (1,606 bilhão de litros vendidos em julho de 2009).
De acordo com o diretor da Unica, "boa parte das unidades estão enfrentando dificuldades para a tomada de crédito e, dessa forma, não estão conseguindo manter estoques do produto".
Esse comportamento das vendas tem deprimido o preço praticado no período de moagem, além de ampliar o risco de maior sazonalidade e impulsionar as cotações na entressafra, acrescentou a associação, que ressaltou a necessidade de maior agilidade na liberação dos recursos para a estocagem de etanol.
"Precisamos evitar um movimento sazonal exagerado de preços, pois isso cria dificuldades para o abastecimento, prejuízo para os produtores, que vendem a maior parte da produção na safra, e desconforto aos consumidores de etanol", ressaltou o executivo.
As vendas totais de etanol (anidro e hidratado) pelas unidades produtoras da região centro-sul do Brasil somaram 2,7 bilhões de litros em julho, sendo 240,4 milhões de litros destinados ao mercado externo e 2,46 bilhões de litros ao consumo doméstico.
No mercado interno, o volume de etanol anidro comercializado pelos produtores em julho atingiu 855,86 milhões de litros, praticamente estável ante o mesmo mês de 2014.
(Por Roberto Samora)