Por Valerie Volcovici e Kate Abnett e Maha El Dahan
WASHINGTON/BRUXELAS/DUBAI (Reuters) - Delegados de quase 200 países se reunirão nesta semana para a cúpula climática COP28 em Dubai, onde o anfitrião da conferência Emirados Árabes Unidos espera vender a visão de um futuro de baixo carbono que inclua, e não evite, os combustíveis fósseis.
Essa narrativa, também apoiada por outros grandes países produtores de petróleo, chamará a atenção para as divisões internacionais na cúpula sobre a melhor maneira de combater o aquecimento global: os países estão divididos entre priorizar a eliminação gradual do carvão, do petróleo e do gás ou ampliar tecnologias como a captura de carbono para eliminar seu impacto climático.
A cúpula anual da Organização das Nações Unidas (ONU), que ocorrerá de 30 de novembro a 12 de dezembro, está ocorrendo no momento em que o mundo está prestes a bater outro recorde de ano mais quente em 2023, e quando novos relatórios confirmam que as atuais promessas climáticas dos países não são suficientes para evitar os piores impactos do aquecimento global.
Entre as principais decisões que os países devem tomar em Dubai -- uma cidade reluzente de alta tecnologia em um país com a economia movida pelo petróleo -- estará a de concordar, pela primeira vez, em "eliminar gradualmente" o consumo global de combustíveis fósseis e substituí-los por fontes como energia solar, eólica e outras.
Para enfatizar a divisão, a Agência Internacional de Energia, o órgão fiscalizador de energia do Ocidente, publicou um relatório antes da conferência definindo sua posição. Ela chamou a ideia de captura generalizada de carbono de "ilusão" e disse que o setor de combustíveis fósseis deve decidir entre aprofundar a crise climática ou mudar para a energia limpa.
Esse relatório provocou uma resposta irada da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), que acusou a agência de difamar os produtores de petróleo.
"Isso apresenta um enquadramento extremamente restrito dos desafios que temos diante de nós e, talvez de forma conveniente, minimiza questões como segurança energética, acesso à energia e acessibilidade da energia", disse a Opep em um comunicado.
As emissões de gases do efeito estufa provenientes da queima de combustíveis fósseis são a maior causa das mudanças climáticas.
Todas as atenções estarão voltadas para o novo presidente da COP, Sultan al-Jaber, cujo trabalho diário como presidente-executivo da empresa petrolífera nacional dos Emirados Árabes, a ADNOC, tem levado a questionamentos sobre a possibilidade de ele ser um mediador honesto de um acordo climático.
Essas preocupações foram ainda mais fomentadas na segunda-feira, depois que a BBC publicou um relatório baseado em documentos vazados que diziam que Jaber planejava discutir possíveis acordos de gás e outros acordos comerciais com mais de uma dúzia de governos antes da cúpula.
Um porta-voz da COP28 disse à Reuters que os documentos eram "imprecisos".
Jaber disse que a redução gradual dos combustíveis fósseis é "inevitável", mas também argumenta que o setor de petróleo deve estar envolvido na luta contra as mudanças climáticas. Ele vem angariando o apoio das empresas para as promessas da COP28 que visam reduzir as emissões das operações de petróleo e gás.
O encontro deste ano terá mais ares de feira comercial do que as COPs anteriores, com os organizadores esperando um recorde de 70.000 pessoas -- incluindo a maior participação de empresas em qualquer cúpula climática da ONU até hoje.